Costuma-se dizer por
aí que a poesia morreu, aliás, como tantos outros ofícios, como o romance. Até
mesmo a História teria chegado a um fim de curso. Mas é ao veicular aquela “primitiva
e selvagem intenção de viver”, de quem se dispõe a levá-la à frente, que a poesia
se mantém entranhada em nossos dias, a incitar “espantos”.
É por isso que, com “obstinada
reverência”, Kiefer – também poeta – segue lendo os vates de nosso tempo,
talvez por reconhecer, como o romântico inglês Shelley, que os poetas se
integram ao eterno, ao infinito, ao uno, porquanto “o ofício e o caráter de um
poeta participam da natureza divina, tanto no que diz respeito à providência, quanto
no que diz respeito à criação.” (SHELLEY, 1891, p. 21)
J.A.R. – H.C.
Charles Kiefer
(n. 1958)
Reverência
Leio os poetas do meu
tempo
não como quem lê os
necrológios
as tabuletas de bar,
epitáfios
os anúncios de
coca-cola. Leio
os poetas do meu
tempo com
obstinada reverência.
Com o
mesmo espanto de quem
lesse
no jornal a notícia
de seu próprio
assassinato. Leio os
poetas
de meu tempo, que
neles ainda
encontro a primitiva
e
selvagem intenção de
viver.
Reverência
(Jennifer McChristian:
artista canadense)
Referências:
KIEFER, Charles.
Reverência. In: SAVARY, Olga (Organização, seleção, notas e apresentação). Antologia
da nova poesia brasileira. Rio de Janeiro, RJ: Fundação Rio / Hipocampo,
1992. p. 65.
SHELLEY, Percy Bysshe. A defense of poetry. Edited with introduction and notes by Albert S. Cook. Boston, MA: Ginn & Company, 1891.
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