Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 7 de agosto de 2022

Charles Kiefer - Reverência

Costuma-se dizer por aí que a poesia morreu, aliás, como tantos outros ofícios, como o romance. Até mesmo a História teria chegado a um fim de curso. Mas é ao veicular aquela “primitiva e selvagem intenção de viver”, de quem se dispõe a levá-la à frente, que a poesia se mantém entranhada em nossos dias, a incitar “espantos”.

 

É por isso que, com “obstinada reverência”, Kiefer – também poeta – segue lendo os vates de nosso tempo, talvez por reconhecer, como o romântico inglês Shelley, que os poetas se integram ao eterno, ao infinito, ao uno, porquanto “o ofício e o caráter de um poeta participam da natureza divina, tanto no que diz respeito à providência, quanto no que diz respeito à criação.” (SHELLEY, 1891, p. 21)

 

J.A.R. – H.C.

 

Charles Kiefer

(n. 1958)

 

Reverência

 

Leio os poetas do meu tempo

não como quem lê os necrológios

as tabuletas de bar, epitáfios

os anúncios de coca-cola. Leio

os poetas do meu tempo com

obstinada reverência. Com o

mesmo espanto de quem lesse

no jornal a notícia de seu próprio

assassinato. Leio os poetas

de meu tempo, que neles ainda

encontro a primitiva e

selvagem intenção de viver.

 

Reverência

(Jennifer McChristian: artista canadense)

 

Referências:

 

KIEFER, Charles. Reverência. In: SAVARY, Olga (Organização, seleção, notas e apresentação). Antologia da nova poesia brasileira. Rio de Janeiro, RJ: Fundação Rio / Hipocampo, 1992. p. 65.

 

SHELLEY, Percy Bysshe. A defense of poetry. Edited with introduction and notes by Albert S. Cook. Boston, MA: Ginn & Company, 1891.

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