Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 14 de agosto de 2022

James Wright - Juventude

O poeta fala de seu pai, um homem trabalhador cuja formação não foi além do que costumamos chamar de ensino médio, sem muita dedicação, portanto, aos livros: o espectro do genitor assoma à mente do falante – um de seus filhos, já adulto –, aferrado ainda aos hábitos que foram incorporados aos seus modos, quando em labuta em uma fábrica da Hazel-Atlas Glass Company.

 

Wright deplora o fato de que as coisas não tenham transcorrido de modo diverso com seu pai, digo melhor, tal como sucedeu ao escritor norte-americano Sherwood Anderson (1876-1941), que, abandonando trabalho fabril similar no vale de Ohio, partiu para Chicago, onde passou a trilhar o caminho das letras.

 

Se o título do poema remete à juventude, talvez seja porque o falante, em plena primavera da vida, cogita em não percorrer a mesma árdua e restrita sina de seu pai – não suficientemente valorizada pela empresa, mesmo à vista de sua aferrada dedicação ao trabalho.

 

Entrementes, a vida segue o seu curso, como o fluxo das águas do rio Ohio: velhas, como o modo opressor de vida fabril, a que se submeteu o pai; novas, como as da linha de montagem em que ingressou o filho, envolto em ideações que se convertem em palavras, digo melhor, a “fábrica do poema”.

 

J.A.R. – H.C.

 

James Wright

(1927-1980)

 

Youth

 

Strange bird,

His song remains secret.

He worked too hard to read books.

He never heard how Sherwood Anderson

Got out of it, and fled to Chicago, furious to free himself

From his hatred of factories.

My father toiled fifty years

At Hazel-Atlas Glass,

Caught among girders that smash the kneecaps

Of dumb honyaks.

Did he shudder with hatred in the cold shadow of grease?

Maybe. But my brother and I do know

He came home as quiet as the evening.

 

He will be getting dark, soon,

And loom through new snow.

I know his ghost will drift home

To the Ohio River, and sit down, alone,

Whittling a root.

He will say nothing.

The waters flow past, older, younger

Than he is, or I am.

 

In: “Shall we gather at the river” (1967)

 

Estimado verão

(Edward B. Gordon: pintor alemão)

 

Juventude

 

Estranho pássaro,

Seu canto permanece em segredo.

Ele trabalhou demais, o que o afastou dos livros.

Jamais se inteirou sobre como Sherwood Anderson

Saiu daquela situação e fugiu para Chicago,

exasperado para se libertar

De seu ódio às fábricas.

Meu pai labutou cinquenta anos

Na Hazel-Atlas Glass,

Confinado entre vigas capazes de romper as rótulas

De ineptos aldeões.

Teria ele estremecido de ódio, exposto ao frio

negrume da graxa?

Talvez. Mas meu irmão e eu sabemos

Que ele voltava para casa tão quieto quanto a noite.

 

Em breve, ficará enegrecido,

E surgirá em meio à neve recente.

Sei que o seu espectro caminhará ao acaso para casa,

No Rio Ohio, e ali se sentará, sozinho,

Desbastando uma raiz.

Ele nada dirá.

As águas fluem adiante, mais velhas, mais jovens

Do que ele, ou do que eu.

 

Em: “Vamos nos reunir à beira do rio?” (1967)

 

Referência:

 

WRIGHT, James. Youth. In: __________. Collected poems. Middletown, CT: Wesleyan University Press, 2007. p. 154.

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