O poeta fala de seu
pai, um homem trabalhador cuja formação não foi além do que costumamos chamar de
ensino médio, sem muita dedicação, portanto, aos livros: o espectro do genitor assoma
à mente do falante – um de seus filhos,
já adulto –, aferrado ainda aos hábitos que foram incorporados aos seus modos, quando
em labuta em uma fábrica da Hazel-Atlas
Glass Company.
Wright deplora o fato
de que as coisas não tenham transcorrido de modo diverso com seu pai, digo
melhor, tal como sucedeu ao escritor norte-americano Sherwood Anderson (1876-1941),
que, abandonando trabalho fabril similar no vale de Ohio, partiu para Chicago,
onde passou a trilhar o caminho das letras.
Se o título do poema
remete à juventude, talvez seja porque o falante, em plena primavera da vida, cogita
em não percorrer a mesma árdua e restrita sina de seu pai – não suficientemente
valorizada pela empresa, mesmo à vista de sua aferrada dedicação ao trabalho.
Entrementes, a vida
segue o seu curso, como o fluxo das águas do rio Ohio: velhas, como o modo opressor
de vida fabril, a que se submeteu o pai; novas, como as da linha de montagem em
que ingressou o filho, envolto em ideações que se convertem em palavras, digo
melhor, a “fábrica do poema”.
J.A.R. – H.C.
James Wright
(1927-1980)
Youth
Strange bird,
His song remains
secret.
He worked too hard to
read books.
He never heard how
Sherwood Anderson
Got out of it, and
fled to Chicago, furious to free himself
From his hatred of
factories.
My father toiled
fifty years
At Hazel-Atlas Glass,
Caught among girders
that smash the kneecaps
Of dumb honyaks.
Did he shudder with
hatred in the cold shadow of grease?
Maybe. But my brother
and I do know
He came home as quiet
as the evening.
He will be getting
dark, soon,
And loom through new
snow.
I know his ghost will
drift home
To the Ohio River,
and sit down, alone,
Whittling a root.
He will say nothing.
The waters flow past,
older, younger
Than he is, or I am.
In: “Shall we gather
at the river” (1967)
Estimado verão
(Edward B. Gordon:
pintor alemão)
Juventude
Estranho pássaro,
Seu canto permanece
em segredo.
Ele trabalhou demais,
o que o afastou dos livros.
Jamais se inteirou
sobre como Sherwood Anderson
Saiu daquela situação
e fugiu para Chicago,
exasperado para se
libertar
De seu ódio às
fábricas.
Meu pai labutou
cinquenta anos
Na Hazel-Atlas Glass,
Confinado entre vigas
capazes de romper as rótulas
De ineptos aldeões.
Teria ele estremecido de ódio, exposto ao frio
negrume da graxa?
Talvez. Mas meu irmão
e eu sabemos
Que ele voltava para
casa tão quieto quanto a noite.
Em breve, ficará enegrecido,
E surgirá em meio à
neve recente.
Sei que o seu
espectro caminhará ao acaso para casa,
No Rio Ohio, e ali se
sentará, sozinho,
Desbastando uma raiz.
Ele nada dirá.
As águas fluem
adiante, mais velhas, mais jovens
Do que ele, ou do que
eu.
Em: “Vamos nos reunir
à beira do rio?” (1967)
Referência:
WRIGHT, James. Youth.
In: __________. Collected poems. Middletown, CT: Wesleyan University
Press, 2007. p. 154.
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