Com um neologismo no
título, notoriamente, junção do substantivo “almanaque” com o adjetivo
“anárquico”, o poeta paulistano pondera nestas linhas sobre o assombro ainda
provocado pelos grandes poetas do século XIX – fantasmas que teimam em sair do
armário –, sobre os vates contemporâneos.
A rigor, as particularidades mencionadas junto aos nomes de cada um desses poetas – nomeadamente, Verlaine, Rimbaud, Baudelaire, Nerval, Allan Poe, Mallarmé, Valéry e Trakl (os dois últimos já adentrando o século XX) – bem ilustram a natureza, os modos, os vezos de tais celebridades, jamais na trilha do convencional, do rotineiro, do habitual, senão que em deliberado empenho em ostentar o insólito, perseguir a iconoclastia, tudo com o objetivo de “impressionar” ou, como se diz, “causar espécie”!
J.A.R. – H.C.
Luiz Roberto Guedes
(n. 1955)
Almanárquico
verlaine na prisão
escrevia
com um palito de fósforo
molhado em café
rimbaud cultivava
piolhos
e forjava brilhos homicidas
com frios olhos azuis
baudelaire tinha
cabelos verdes
e nerval passeava um
lagostim
pelas ruas de paris |pour
épater:
c’est le style,
célestine|
edgar lúgubre poe
mallarmé enigmático
valéry lúcido
trakl drogado
o fantasmário
mascarado
baila no sarau do
século
e até agora te
assombra
poète qualquer, mon
frère
O Encontro
(Leah Saulnier:
artista norte-americana)
Referência:
GUEDES, Luiz Roberto.
Almanárquico. In: DANIEL, Claudio; BARBOSA, Frederico (Organização, Seleção e
Notas). Na virada do século: poesia de invenção no Brasil. São Paulo,
SP: Landy, 2007. p. 236
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