Em três indagações que,
por si próprias, já carregam as suas próprias moções, a saber, congruentes ao
mesmo propósito de grafar em linhas o impacto da ausência dos que partiram para
bem longe do torrão natal, o poeta venezuelano entorna a sua lírica memorial, para
deplorar o tom esmaecido da aquarela que restou de um ledo passado, de uma idílica
infância.
A percussão sonora de
uma voz que enuncia o “despovoado e o ausente”, os rumores sobre os passos
daqueles que longe se encontram são como lâminas a lacerar fundo o ânimo dos mais
absortos, induzindo-os a lançar mão da palavra para revolver a lápide sob a
qual o tempo se obstina em soterrar as crônicas de suas fainas.
J.A.R. – H.C.
Gabriel Saldivia
(n. 1956)
Despoblado
Qué escribir sino
palabras
que arden en el sol,
sin verdor
sin caudalosas aguas
sin patios
para los saltos de la
infancia
y el reposo de pájaros.
Qué escribir sino páginas
de exilios
donde tiembla el
pulso
y se escucha la voz
de lo despoblado y ausente.
Qué escribir cuando
las palabras son rumores
en los pasos lejanos
de los hombres
que al azar de otros
predios
para siempre
partieron.
En: “Ceniza inicial”
(1985-1990)
Fantasia Italiana
(José Manuel
Ballester: pintor espanhol)
Despovoado
O que escrever senão
palavras
que ardem ao sol,
sem verdor
sem caudalosas águas
sem pátios
para os saltos da infância
e o repouso de pássaros.
O que escrever senão
páginas de exílios
onde freme o pulso
e se escuta a voz do
despovoado e do ausente.
O que escrever quando
as palavras são rumores
nos passos distantes
dos homens
que, ao acaso, de
outras herdades
para sempre partiram.
Em: “Cinza inicial”
(1985-1990)
Referência:
SALDIVIA, Gabriel.
Despoblado. In: __________. Antología poética. Caracas, VE: Fundarte,
2010. p. 11. (“Cuadernos de Difusión – Mención Poesía”; nº 290)
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