Não se pode subestimar
o poder que o Nobel chileno tinha para concatenar ideias, pensamentos e abstrações
dos mais variados matizes: aqui, ele evoca tudo aquilo que lhe vem ao espírito
ao contemplar uma caixa de chá originária do Ceilão, nome antigo do atual Sri
Lanka, país insular situado mais ou menos ao sul da Índia.
A caixa agora serve
para a guarda de botões, mas ainda suscita na mente do falante muitas imagens
que se associam ao aroma do chá, à tropicalidade do país asiático, às
monções, ao mar dominante e a uma forma de vida que ainda se passa muito ao
natural.
J.A.R. – H.C.
Pablo Neruda
(1904-1973)
Oda a la caja de té
Caja de té
de aquel
país de elefantes,
ahora costurero
envejecido,
pequeño planetario de
botones,
como de otro planeta
a la casa
trajiste
un aroma sagrado,
indefinible.
Así llegó de lejos
regresando
de las islas
mi corazón de joven
fatigado.
La fiebre me tenía
sudoroso
cerca del mar, y un
ramo de palmeras
sobre mí se movía
refrescando
con aire verde y
canto
mis pasiones.
Caja
de latón, primorosa,
ay
me recuerdas
las olas de otros
mares,
el anuncio
del monzón sobre
Asia,
cuando se balancean
como
navíos
los países
en las manos del
viento
y Ceylán desparrama
sus olores
como una
combatida
cabellera.
Caja de té,
como mi
corazón
trajiste
letras,
escalofríos,
ojos
que contemplaron
pétalos fabulosos
y también ay!
aquel
olor perdido
a té, a jazmín, a
sueños,
a primavera errante.
1955
Lata de chá do
Ceilão
(atual Sri Lanka)
Ode à caixa de chá
Caixa de chá
daquele país dos
elefantes,
agora uma desgastada
caixa de costura,
pequeno planetário de
botões:
como que de outro
planeta,
trouxeste
para casa
um aroma sagrado,
indefinível.
Assim chegou de longe,
regressando
das ilhas,
o meu coração de
jovem fatigado.
A febre fez-me
suar
perto do mar, e um
ramo de palmeira
movia-se sobre mim,
refrescando
minhas paixões
com ar verde e canto.
Caixa
de latão, primorosa,
oh,
lembras-me
as ondas de outros
mares,
o anúncio
da monção sobre a Ásia,
quando os países
balançam
feito
navios
nas mãos do vento
e o Ceilão esparrama
seus aromas,
como uma
agitada
cabeleira.
Caixa de chá,
tal como o meu
coração,
trouxeste
letras,
arrepios,
olhos
que contemplaram
pétalas fabulosas
e, também, oh,
aquele
aroma perdido
a chá, a jasmim, a
sonhos,
a primavera errante.
1955
Referência:
NERUDA, Pablo. Oda a
la caja de té. In: __________. Tercer libro de las odas. 2. ed. Buenos
Aires, AR: Losada, 1972. p. 81-82. (Biblioteca Clásica y Contemporánea)
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