Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Pablo Neruda - Ode à caixa de chá

Não se pode subestimar o poder que o Nobel chileno tinha para concatenar ideias, pensamentos e abstrações dos mais variados matizes: aqui, ele evoca tudo aquilo que lhe vem ao espírito ao contemplar uma caixa de chá originária do Ceilão, nome antigo do atual Sri Lanka, país insular situado mais ou menos ao sul da Índia.

 

A caixa agora serve para a guarda de botões, mas ainda suscita na mente do falante muitas imagens que se associam ao aroma do chá, à tropicalidade do país asiático, às monções, ao mar dominante e a uma forma de vida que ainda se passa muito ao natural.

 

J.A.R. – H.C.

 

Pablo Neruda

(1904-1973)

 

Oda a la caja de té

 

Caja de té

de aquel

país de elefantes,

ahora costurero

envejecido,

pequeño planetario de botones,

como de otro planeta

a la casa

trajiste

un aroma sagrado,

indefinible.

Así llegó de lejos

regresando

de las islas

mi corazón de joven fatigado.

La fiebre me tenía

sudoroso

cerca del mar, y un

ramo de palmeras

sobre mí se movía

refrescando

con aire verde y canto

mis pasiones.

 

Caja

de latón, primorosa,

ay

me recuerdas

las olas de otros mares,

el anuncio

del monzón sobre Asia,

cuando se balancean

como

navíos

los países

en las manos del viento

y Ceylán desparrama

sus olores

como una

combatida

cabellera.

 

Caja de té,

como mi

corazón

trajiste

letras,

escalofríos,

ojos

que contemplaron

pétalos fabulosos

y también ay!

aquel

olor perdido

a té, a jazmín, a sueños,

a primavera errante.

 

1955

 

Lata de chá do Ceilão

(atual Sri Lanka)

 

Ode à caixa de chá

 

Caixa de chá

daquele país dos elefantes,

agora uma desgastada

caixa de costura,

pequeno planetário de botões:

como que de outro planeta,

trouxeste

para casa

um aroma sagrado,

indefinível.

Assim chegou de longe,

regressando

das ilhas,

o meu coração de jovem fatigado.

 

A febre fez-me

suar

perto do mar, e um

ramo de palmeira

movia-se sobre mim,

refrescando

minhas paixões

com ar verde e canto.

 

Caixa

de latão, primorosa,

oh,

lembras-me

as ondas de outros mares,

o anúncio

da monção sobre a Ásia,

quando os países

balançam

feito

navios

nas mãos do vento

e o Ceilão esparrama

seus aromas,

como uma

agitada

cabeleira.

 

Caixa de chá,

tal como o meu

coração,

trouxeste

letras,

arrepios,

olhos

que contemplaram

pétalas fabulosas

e, também, oh,

aquele

aroma perdido

a chá, a jasmim, a sonhos,

a primavera errante.

 

1955

 

Referência:

 

NERUDA, Pablo. Oda a la caja de té. In: __________. Tercer libro de las odas. 2. ed. Buenos Aires, AR: Losada, 1972. p. 81-82. (Biblioteca Clásica y Contemporánea)

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