Hoje, dia dedicado
aos cães, posto um poema em que Billy Collins, poeta norte-americano, dispõe-se
a retratar o comportamento de sua cadela, Dharma: desapegada, levando uma vida
sem estorvos, ela seria um modelo de perfeição terrena, não fosse por alguns
“pecados veniais”, como ter a mania de afastar o gato do falante para o lado e
comer toda a sua comida.
Para Collins, os cães
têm uma vida mais plena e mais livre do que os seres humanos – e podem estar
seguros, porque os seus donos são como Deuses provedores do necessário sustento.
Quanto à questão da segurança, nada se diz, mas subentende-se que cão e dono se
relacionam segundo regras de salvaguarda recíprocas.
J.A.R. – H.C.
Billy Collins
(n. 1941)
Dharma
The way the dog trots
out the front door
every morning
without a hat or an
umbrella,
without any money
or the keys to her
doghouse
never fails to fill
the saucer of my heart
with milky
admiration.
Who provides a finer
example
of a life without
encumbrance?
Thoreau in his curtainless
hut
with a single plate,
a single spoon?
Gandhi with his staff
and his holy diapers?
Off she goes into the
material world
with nothing but her
brown coat
and her modest blue
collar,
following only her
wet nose,
the twin portals of
her steady breathing,
followed only by the
plume of her tail.
If only she did not
shove the cat aside
every morning
and eat all his food
what a model of
self-containment she would be,
what a paragon of
earthly detachment.
If only she were not
so eager
for a rub behind the
ears,
so acrobatic in her
welcomes,
if only I were not
her god.
(1999)
Homem com uma cadela
(Edmonda Berdilla:
artista grega)
Dharma
A forma como a cadela
sai trotando pela porta da frente,
todas as manhãs,
sem chapéu ou guarda-chuva,
sem nenhum dinheiro
ou as chaves de sua
casinha canina,
nunca deixa de encher
o pires do meu coração
com uma leitosa
admiração.
Quem daria um melhor
exemplo
de uma vida sem fardos?
Thoreau em sua cabana
sem cortinas,
com um único prato,
uma única colher?
Gandhi com o seu
cajado e suas sagradas fraldas?
Ela adentra o mundo
material
com nada mais que o casaco
marrom
e seu modesto colar
azul,
levada somente por
seu úmido nariz,
os portais gêmeos de
sua respiração regular,
tão apenas em
companhia da pluma de sua cauda.
Se ao menos não
empurrasse o gato para o lado,
todas as manhãs,
e comesse toda a sua
comida,
que modelo de
autocontenção ela seria,
que exemplo de desapego
terreno.
Se ao menos não
estivesse tão ansiosa
por uma massagem
atrás das orelhas,
tão acrobática em
suas boas-vindas,
se ao menos eu não
fosse o seu deus.
(1999)
Referência:
COLLINS, Billy.
Dharma. In: PINSKY, Robert (Guest Editor); David Lehman (Series Editor). The
best of the best american poetry. 25th anniversary edition. First Scribner
edition. New York, NY: Scribner Poetry, april 2013. p. 50-51.
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