Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Billy Collins - Dharma

Hoje, dia dedicado aos cães, posto um poema em que Billy Collins, poeta norte-americano, dispõe-se a retratar o comportamento de sua cadela, Dharma: desapegada, levando uma vida sem estorvos, ela seria um modelo de perfeição terrena, não fosse por alguns “pecados veniais”, como ter a mania de afastar o gato do falante para o lado e comer toda a sua comida.

 

Para Collins, os cães têm uma vida mais plena e mais livre do que os seres humanos – e podem estar seguros, porque os seus donos são como Deuses provedores do necessário sustento. Quanto à questão da segurança, nada se diz, mas subentende-se que cão e dono se relacionam segundo regras de salvaguarda recíprocas.

 

J.A.R. – H.C.

 

Billy Collins

(n. 1941)

 

Dharma

 

The way the dog trots out the front door

every morning

without a hat or an umbrella,

without any money

or the keys to her doghouse

never fails to fill the saucer of my heart

with milky admiration.

 

Who provides a finer example

of a life without encumbrance?

Thoreau in his curtainless hut

with a single plate, a single spoon?

Gandhi with his staff and his holy diapers?

 

Off she goes into the material world

with nothing but her brown coat

and her modest blue collar,

following only her wet nose,

the twin portals of her steady breathing,

followed only by the plume of her tail.

 

If only she did not shove the cat aside

every morning

and eat all his food

what a model of self-containment she would be,

what a paragon of earthly detachment.

If only she were not so eager

for a rub behind the ears,

so acrobatic in her welcomes,

if only I were not her god.

 

(1999)

 

Homem com uma cadela

(Edmonda Berdilla: artista grega)

 

Dharma

 

A forma como a cadela sai trotando pela porta da frente,

todas as manhãs,

sem chapéu ou guarda-chuva,

sem nenhum dinheiro

ou as chaves de sua casinha canina,

nunca deixa de encher o pires do meu coração

com uma leitosa admiração.

 

Quem daria um melhor exemplo

de uma vida sem fardos?

Thoreau em sua cabana sem cortinas,

com um único prato, uma única colher?

Gandhi com o seu cajado e suas sagradas fraldas?

 

Ela adentra o mundo material

com nada mais que o casaco marrom

e seu modesto colar azul,

levada somente por seu úmido nariz,

os portais gêmeos de sua respiração regular,

tão apenas em companhia da pluma de sua cauda.

 

Se ao menos não empurrasse o gato para o lado,

todas as manhãs,

e comesse toda a sua comida,

que modelo de autocontenção ela seria,

que exemplo de desapego terreno.

Se ao menos não estivesse tão ansiosa

por uma massagem atrás das orelhas,

tão acrobática em suas boas-vindas,

se ao menos eu não fosse o seu deus.

 

(1999)

 

Referência:

 

COLLINS, Billy. Dharma. In: PINSKY, Robert (Guest Editor); David Lehman (Series Editor). The best of the best american poetry. 25th anniversary edition. First Scribner edition. New York, NY: Scribner Poetry, april 2013. p. 50-51.

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