Resta claro ao leitor
que o artefato a que se refere o poeta é a bomba atômica, diante do cenário
descrito para testes, digo melhor, um deserto, decerto no meio dos EUA, onde,
de início, ocorreram os testes para se conhecer a extensão dos efeitos por ela
provocados.
O lagarto que a tudo
observa, prevendo o seu próprio aniquilamento, faz as vezes do mundo vivente ao
redor: seus membros são consignados com características bastante humanas – “cotovelos”,
“mãos” –, traduzindo a fração da humanidade que será exposta à maior de todas
as loucuras jamais perpetradas pelo próprio homem.
J.A.R. – H.C.
William Stafford
(1914-1993)
At the Bomb Testing
Site
At noon in the desert
a panting lizard
waited for history,
its elbows tense,
watching the curve of
a particular road
as if something might
happen.
It was looking at
something farther off
than people could
see, an important scene
acted in stone for
little selves
at the flute end of
consequences.
There was just a
continent without much on it
under a sky that
never cared less.
Ready for a change,
the elbows waited.
The hands gripped
hard on the desert.
A bomba atômica
(Verne Dawson: pintor
norte-americano)
No Local de Teste da
Bomba
Ao meio-dia, no
deserto, um ofegante lagarto
esperava pela história,
seus cotovelos tensos,
observando a curva de
uma determinada estrada,
como se algo pudesse
acontecer.
Estava à procura de
algo mais distante
do que as pessoas poderiam
ver, uma importante cena
a se desenrolar na
fraga para pequenos seres,
no mais frágil extremo das consequências.
Havia apenas um
continente sem muitos na superfície,
Sob um céu que tampouco se importava.
Prontos para uma mudança,
os cotovelos esperavam.
As mãos firmemente
agarradas ao deserto.
Referência:
STAFFORD, William. At
the bomb testing site. In: HEANEY, Seamus; HUGHES, Ted (Eds.). The rattle
bag. 1st publ. London, EN: Faber and Faber, 1982. p. 46.
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