Nuances metafóricas
dos efeitos do tempo sobre a realidade tangível, bem assim sobre o corpo
humano, dentro do qual se deposita o “soro da morte no sangue”: eis o motivo à
volta do qual se cingem os versos do autor carioca, plenamente cônscio da portentosa
ordem cósmica, contra a qual a finitude humana debalde litiga, tentando
exorcizar os seus próprios medos perante as máscaras do efêmero.
No centro do círculo,
algo um pouco menos volátil, como o eixo perdurável do ser, em companhia do
qual experimentamos a plenitude do instante; mas, girando ao redor, um tempo
explicitamente metamorfoseante, refém de nosso relógio natural – tempo irremissível,
tempo irresistível, tempo humano, “demasiadamente humano”.
J.A.R. – H.C.
Cláudio D. C. Leal
(1955-2020)
Cinzel do tempo
Alguns poemas
são como o clarão do
dia
refletido nas coisas,
outros há que são,
sob o manto noturno,
luzes ou sombras
destas coisas
vividas no dia-a-dia.
entre o clarão diurno
e a explosão onírica
dentro da noite
uma agulha fina
injeta nas artérias
da vida
o soro da morte no
sangue,
ó cinzel do tempo
– infatigável
escultor do futuro –
eis que o teu
escalavrar
na carne
os abismos plásticos
do crepúsculo
dói mais que tudo!
Egito surreal
(Gyuri Lohmuller:
artista romeno)
Referência:
LEAL, Cláudio D. C.
Cinzel do tempo. In: MOTTA, Thereza Christina Rocque da; FRANCO, João José de
Melo (Organização e Apresentação). Ponte de versos: 8 anos. Rio de
Janeiro, RJ: Ibis Libris, 2008. p. 73.
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