Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 6 de agosto de 2023

Cláudio D. C. Leal - Cinzel do tempo

Nuances metafóricas dos efeitos do tempo sobre a realidade tangível, bem assim sobre o corpo humano, dentro do qual se deposita o “soro da morte no sangue”: eis o motivo à volta do qual se cingem os versos do autor carioca, plenamente cônscio da portentosa ordem cósmica, contra a qual a finitude humana debalde litiga, tentando exorcizar os seus próprios medos perante as máscaras do efêmero.

 

No centro do círculo, algo um pouco menos volátil, como o eixo perdurável do ser, em companhia do qual experimentamos a plenitude do instante; mas, girando ao redor, um tempo explicitamente metamorfoseante, refém de nosso relógio natural – tempo irremissível, tempo irresistível, tempo humano, “demasiadamente humano”.

 

J.A.R. – H.C.

 

Cláudio D. C. Leal

(1955-2020)

 

Cinzel do tempo

 

Alguns poemas

são como o clarão do dia

refletido nas coisas,

outros há que são,

sob o manto noturno,

luzes ou sombras destas coisas

vividas no dia-a-dia.

entre o clarão diurno

e a explosão onírica dentro da noite

uma agulha fina

injeta nas artérias da vida

o soro da morte no sangue,

ó cinzel do tempo

– infatigável escultor do futuro –

eis que o teu escalavrar

na carne

os abismos plásticos do crepúsculo

dói mais que tudo!

 

Egito surreal

(Gyuri Lohmuller: artista romeno)

 

Referência:

 

LEAL, Cláudio D. C. Cinzel do tempo. In: MOTTA, Thereza Christina Rocque da; FRANCO, João José de Melo (Organização e Apresentação). Ponte de versos: 8 anos. Rio de Janeiro, RJ: Ibis Libris, 2008. p. 73.

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