Em interação com os elementos
pictóricos da obra de Cézanne, o poeta nela captura ingredientes que
representariam como que um chamado dos mortos para que sejam lembrados, se não
individualizadamente, pelo menos como um coletivo, a reforçar a linha de reciprocidade
que os vivos devem manter com os seus antepassados.
O poema se difunde
por meio de uma textura pendular entre o espectral e o tangível, perpassado por
aquele sentido arquetípico que se costuma atribuir a todas as coisas que, desde
a noite dos tempos, povoam a memória da humanidade, autêntico manancial de onde
se espera viabilizar intercursos, os quais, sob a perspectiva do poeta, sintetizam-se
pelo tom de cor invocado – azul-cádmio –, ao mesmo tempo espiritual e telúrico.
J.A.R. – H.C.
Charles Wright
(n. 1935)
Homage to Paul
Cézanne
IV
The dead are a
cadmium blue.
We spread them with
palette knives in broad blocks
and planes.
We layer them stroke
by stroke
In steps and
ascending mass, in verticals raised from
the earth.
We choose, and layer
them in,
Blue and a blue and a
breath,
Circle and smudge,
cross-beak and button hook,
We layer them in. We
squint hard and terrace them
line by line.
And so we are come
between, and cry out,
And stare up at the
sky and its cloudy panes,
And finger the
cypress twists.
The dead understand
all this, and keep in touch,
Rustle of hand to
hand in the lemon trees,
Flags, and the great
sifts of anger
To powder and
nothingness.
The dead are cadmium
blue, and they understand.
Maria Madalena ou a
Dor
(Paul Cézanne: pintor
francês)
Homenagem a Paul
Cézanne
IV
Os mortos são um azul-cádmio.
Espalhamo-los com espátulas
em amplos blocos
e planos.
Superpomo-los, pincelada
a pincelada,
Em gradações e massa
ascendente, em verticais
erguidas desde a
terra.
Destacamo-los e
arrumamo-los em camadas,
Um azul e outro azul e
então uma lufada,
Círculo e nódoa, rostro
encruzado e abotoadeira,
Arrumamo-los em
camadas. Aplanamo-los com força,
dispondo-os em eirados
linha a linha.
E assim nos
interpomos, e gritamos,
E contemplamos o céu
e suas nubladas vidraças,
E apalpamos as
torceduras do cipreste.
Os mortos compreendem
tudo isto, e mantêm-se
em contato,
Bulício de mão em mão
nos limoeiros,
Bandeirolas, e os
grandes tamises da ira
Ao pó e ao nada.
Os mortos são um azul-cádmio,
e eles compreendem.
Referência:
WRIGHT, Charles.
Homage to Paul Cézanne: section IV. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage
book of contemporary american poetry. 2nd ed. New York,
NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p. 395-396.
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