Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Charles Wright - Homenagem a Paul Cézanne: Seção IV

Em interação com os elementos pictóricos da obra de Cézanne, o poeta nela captura ingredientes que representariam como que um chamado dos mortos para que sejam lembrados, se não individualizadamente, pelo menos como um coletivo, a reforçar a linha de reciprocidade que os vivos devem manter com os seus antepassados.

 

O poema se difunde por meio de uma textura pendular entre o espectral e o tangível, perpassado por aquele sentido arquetípico que se costuma atribuir a todas as coisas que, desde a noite dos tempos, povoam a memória da humanidade, autêntico manancial de onde se espera viabilizar intercursos, os quais, sob a perspectiva do poeta, sintetizam-se pelo tom de cor invocado – azul-cádmio –, ao mesmo tempo espiritual e telúrico.

 

J.A.R. – H.C.

 

Charles Wright

(n. 1935)

 

Homage to Paul Cézanne

 

IV

 

The dead are a cadmium blue.

We spread them with palette knives in broad blocks

and planes.

 

We layer them stroke by stroke

In steps and ascending mass, in verticals raised from

the earth.

 

We choose, and layer them in,

Blue and a blue and a breath,

 

Circle and smudge, cross-beak and button hook,

We layer them in. We squint hard and terrace them

line by line.

 

And so we are come between, and cry out,

And stare up at the sky and its cloudy panes,

 

And finger the cypress twists.

The dead understand all this, and keep in touch,

 

Rustle of hand to hand in the lemon trees,

Flags, and the great sifts of anger

 

To powder and nothingness.

The dead are cadmium blue, and they understand.

 

Maria Madalena ou a Dor

(Paul Cézanne: pintor francês)

 

Homenagem a Paul Cézanne

 

IV

 

Os mortos são um azul-cádmio.

Espalhamo-los com espátulas em amplos blocos

e planos.

 

Superpomo-los, pincelada a pincelada,

Em gradações e massa ascendente, em verticais

erguidas desde a terra.

 

Destacamo-los e arrumamo-los em camadas,

Um azul e outro azul e então uma lufada,

 

Círculo e nódoa, rostro encruzado e abotoadeira,

Arrumamo-los em camadas. Aplanamo-los com força,

dispondo-os em eirados linha a linha.

 

E assim nos interpomos, e gritamos,

E contemplamos o céu e suas nubladas vidraças,

 

E apalpamos as torceduras do cipreste.

Os mortos compreendem tudo isto, e mantêm-se

em contato,

 

Bulício de mão em mão nos limoeiros,

Bandeirolas, e os grandes tamises da ira

 

Ao pó e ao nada.

Os mortos são um azul-cádmio, e eles compreendem.

 

Referência:

 

WRIGHT, Charles. Homage to Paul Cézanne: section IV. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary american ‎‎poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House ‎‎Inc.), march 2003. p. 395-396.

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