Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 5 de agosto de 2023

Dionisio Aymará - O poeta

Aymará defende um escopo mais “modesto” para a missão do poeta, não exatamente aderente às comuns representações que lhe são atribuídas, até mesmo estereotipicamente – um desgrenhando, um louco, insano, alucinado ou, ainda, alguém que se detém a cantar loas de amor às suas musas, alçando-as a um páramo quase inatingível de pureza, beleza e perfeição.

 

Para o autor, basta-lhe “um coração para sentir-se humano”, para “ser língua do tempo e voz do homem”, ou de outro modo, ser o portador de uma mensagem que não se descola da realidade diretamente vivenciada, sendo-lhe contemporânea na forma e no conteúdo, no significante e no significado, domiciliando-se na terra, deveras, como um desenvolto senhor de seu ofício.

 

J.A.R. – H.C.

 

Dionisio Aymará

(1928-1999)

 

El poeta

 

Ni revueltos cabellos.

Ni trasmundos. Ni sombra en la mirada.

Otros fueron creados

para las roñas tristes

en las casas heladas de metales y ricas

maderas que olvidaron

su origen vegetal.

Ni una rosa en los dedos

para las sonrisas de moda en la estación.

Ni arpa en las manos para cantar los

ojos dorados de las niñas.

Solo corazón para sentirse humano

y ser lengua del tiempo

y voz del hombre.

 

Três horas e meia (O poeta)

(Marc Chagall: pintor franco-russo)

 

O poeta

 

Nem revoltos cabelos.

Nem transmundos. Nem sombra no olhar.

Outros foram criados

para as ronhas tristes

nas casas congeladas de metais e ricas

madeiras que esqueceram

sua origem vegetal.

Nem uma rosa nos dedos

para os sorrisos de moda na estação.

Nem harpa nas mãos para cantar os

olhos dourados das mocinhas.

Somente um coração para sentir-se humano

e ser língua do tempo

e voz do homem.

 

Referência:

 

AYMARÁ, Dionisio. El poeta. In: SOJO, Giordana García; LACAVE, Luis (Antologistas). Como una brasa que ha seguido encendida: antología de poesía venezolana. Caracas, VE: Fundación Editorial El perro y la rana, 2016. p. 25.

Nenhum comentário:

Postar um comentário