Aymará defende um escopo
mais “modesto” para a missão do poeta, não exatamente aderente às comuns representações
que lhe são atribuídas, até mesmo estereotipicamente – um desgrenhando, um louco,
insano, alucinado ou, ainda, alguém que se detém a cantar loas de amor às suas
musas, alçando-as a um páramo quase inatingível de pureza, beleza e perfeição.
Para o autor, basta-lhe
“um coração para sentir-se humano”, para “ser língua do tempo e voz do homem”,
ou de outro modo, ser o portador de uma mensagem que não se descola da realidade
diretamente vivenciada, sendo-lhe contemporânea na forma e no conteúdo, no
significante e no significado, domiciliando-se na terra, deveras, como um desenvolto
senhor de seu ofício.
J.A.R. – H.C.
Dionisio Aymará
(1928-1999)
El poeta
Ni revueltos
cabellos.
Ni trasmundos. Ni
sombra en la mirada.
Otros fueron creados
para las roñas
tristes
en las casas heladas
de metales y ricas
maderas que olvidaron
su origen vegetal.
Ni una rosa en los
dedos
para las sonrisas de
moda en la estación.
Ni arpa en las manos
para cantar los
ojos dorados de las
niñas.
Solo corazón para
sentirse humano
y ser lengua del
tiempo
y voz del hombre.
(Marc Chagall: pintor
franco-russo)
O poeta
Nem revoltos cabelos.
Nem transmundos. Nem
sombra no olhar.
Outros foram criados
para as ronhas
tristes
nas casas congeladas
de metais e ricas
madeiras que
esqueceram
sua origem vegetal.
Nem uma rosa nos
dedos
para os sorrisos de
moda na estação.
Nem harpa nas mãos
para cantar os
olhos dourados das
mocinhas.
Somente um coração
para sentir-se humano
e ser língua do tempo
e voz do homem.
Referência:
AYMARÁ, Dionisio. El
poeta. In: SOJO, Giordana García; LACAVE, Luis (Antologistas). Como una
brasa que ha seguido encendida: antología de poesía venezolana.
Caracas, VE: Fundación Editorial El perro y la rana, 2016. p. 25.
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