Breves, mas muito
expressivos estes versos do poeta venezuelano: a voz lírica se pergunta se há o
poema e, mesmo, se existe o poeta, se este, depois de redigir alguma composição
poética, não lhe dá publicidade, mantendo-a encerrada em uma gaveta, ou seja, não
há terceiros intervenientes – leitores a quem, em tese, sempre se destinam as
criações literárias.
Vem-me à memória o
caso da copiosa obra poética de Emily Dickinson (1830-1886) – poetisa
norte-americana, que, em vida, não deu a conhecer mais que uma dezena de poemas
–, majoritariamente publicada depois de sua morte, isto é, em 1890, por Thomas
W. Higginson e Mabel L. Todd, ambos muito próximos à família Dickinson.
Sem entrar no mérito
de por que o fazem de modo incógnito, há quem peregrine por sendas
intermediárias, em outros termos, publique seus poemas anonimamente ou
subscritos por pseudônimos: menos mal, haja vista que, desse modo, se pode
apreciar o valor literário de um trabalho que, de outra forma, se perderia
prematuramente no esquecimento, ainda que, circunstancialmente, pudesse
ostentar irrefutáveis méritos.
J.A.R. – H.C.
José Miguel Casado
(n. 1985)
Dilemas del Oficio
si este poema está
escrito
y tiene 11 versos
que son leíbles y
contables
si tiene un buen
cierre
que podría
considerarse el hallazgo
si este poema está aqui
en este pobre mundo
pero sigue prisioneiro
en mi gaveta
¿este poema existe?
¿existe el poeta?
O Poeta
(Anita Malfatti:
artista brasileira)
Dilemas do Ofício
se este poema está
escrito
e tem onze versos
que podem ser lidos e
contados
se tem um bom fecho
que se poderia
considerar um achado
se este poema aqui
está
neste pobre mundo
embora siga
prisioneiro
em minha gaveta
este poema existe?
existe o poeta?
Referência:
CASADO, José Miguel. Dilemas del oficio. In: MONTECINOS, Héctor Hernández (Selección y Prólogo). 4M3R1C4: novísima poesía latinoamericana. Santiago (CL): Ventana Abierta, 2010. p. 427.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário