Emanuel canta loas à
cidade que a acolheu já há longos anos, onde trabalhou como professora de inglês
na Universidade de Pittsburgh, cidade a oeste da Pensilvânia (EUA): a urbe nada
se parece ao centro buliçoso de New York, senão bem mais, guardadas as
proporções, às imagens mentais firmadas desde longa em relação a Veneza (IT),
destino de amantes que procuram remansos – como Vronsky e Ana Karenina, na obra
homônima de Tolstoi.
Digo isto porque dos
versos da poetisa depreende-se certa lubricidade a justificar, em boa medida, o
título atribuído ao poema – “Desejo” –, acentuado ainda mais pelo pacífico
cenário urbano de Pittsburgh, entrecortado por rios, onde a falante, em seu
quintal, em companhia de seu presumível companheiro, pode sentir a brisa e contemplar
o céu estrelado, fazendo do seu canto o mundo inteiro.
J.A.R. – H.C.
Lynn Emanuel
(n. 1949)
Desire
This is not Turner’s
Venice
not all the light is
let loose across the canals,
the low clefts of
little waves.
This is Pittsburgh
where the air is sulphurous
and the water
landlocked, slowed by waste
and those small iron
bridges.
But even here we have
discovered desire,
like Columbus
who was looking for
the end of the world
and stumbled on
continents.
Night, on the lawn
supple constellations of light.
We are sitting in the
yard and I, too, am hoping
for the end
of something, or the
world, maybe,
that great still
perfect lip and those little boats
going off;
I am hoping that
tonight is movement we have
only mistaken for
stillness.
But it is August and
this is Pittsburgh
the most familiar
place in the world
calm water, boats,
channels
and beautiful too,
those little bridges
leading back and
forth across the river.
Here in our own back
yard we can find
the rare acres of
stars, the thin wind
abating in the huge
green hesitations of the trees.
Noite Estrelada sobre
Pittsburgh
(Christopher Nemeth:
pintor norte-americano)
Desejo
Esta não é a Veneza
de Turner,
nem toda a luz se
espalha pelos canais,
as fendas baixas de
pequenas ondas.
Esta é Pittsburgh,
onde o ar é sulfuroso,
a água sem saída para
o mar, retida por detritos,
e aquelas pequenas
pontes de ferro.
Mas mesmo aqui
descobrimos o desejo,
como Colombo
que procurava o fim
do mundo e tropeçou
em continentes.
Noite, sobre o gramado flexíveis constelações de luz.
Estamos sentados no quintal
e eu, também, espero
o fim de algo, ou do
mundo, talvez,
aquele grande lábio
ainda perfeito e aqueles
barquinhos que partem;
espero que esta noite
seja um movimento
que só tenhamos
confundido com quietude.
Mas estamos em agosto
e isto é Pittsburgh,
o lugar mais familiar
do mundo,
águas calmas, barcos,
canais
e – igualmente belas
– aquelas pequenas pontes
que permitem os vaivéns
de um lado a outro do rio.
Aqui em nosso próprio
quintal podemos encontrar
os raros acres de
estrelas, o vento tênue
a amainar nas vastas
hesitações verdes das árvores.
Referência:
EMANUEL, Lynn.
Desire. In: CHRISTOPHER, Nicholas (Ed.). Walk on the wild side: urban
american poetry since 1975. New York, NY: Collier Books, 1994. p. 54.
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