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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Celso Gutfreind - Poema com todos os vícios

Um poema hilário para começar o dia: o poeta gaúcho interage com as teorias de Freud, ou mais precisamente, com as teses do ‘Complexo de Édipo’, para concluir algo bem menos circunscrito aos propósitos do vienense, que, em seu trabalho, tencionava desvendar os sentidos lógicos do que está por trás das manifestações tantas vezes paradoxais da psique humana.

 

Gutfreind, por sua vez, sustenta a não contemporaneidade entre a aptidão para poder fazer as coisas e o momento em que o desejo – completamente abstraído aos critérios de licitude ou moralidade – assoma ao espírito, associando a premissa inicial à própria expressão da vida, sempre posposta aos desvarios da mente.

 

J.A.R. – H.C.

 

Celso Gutfreind

(n. 1963)

 

Poema com todos os vícios

 

Oh! Como eu desejava possuir mamãe...

Para isso teria de matar papai.

Estava escrito em todos os jornais,

papai se precavia espertamente,

e a morte tornava-se difícil.

 

Hoje papai é rabugento,

doente, fraco, fácil de matar.

Mas cá entre nós, mamãe

já não é lá essas coisas.

 

Tudo isso prova

que a vida sempre

chega depois.

 

Em: “Hotelzinho da Sertório” (1991)

 

Andrômaca e Astíanax

(Pierre-Paul Prud’hon: pintor francês)

 

Referência:

 

GUTFREIND, Celso. Poema com todos os vícios. In: VASQUES, Marco (Seleção e Organização). Moradas de Orfeu: antologia poética. Apresentação de Péricles Prade. Florianópolis, SC: Letras Contemporâneas, 2011. p. 225.

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