Um poema hilário para
começar o dia: o poeta gaúcho interage com as teorias de Freud, ou mais
precisamente, com as teses do ‘Complexo de Édipo’, para concluir algo bem menos
circunscrito aos propósitos do vienense, que, em seu trabalho, tencionava desvendar
os sentidos lógicos do que está por trás das manifestações tantas vezes paradoxais
da psique humana.
Gutfreind, por sua
vez, sustenta a não contemporaneidade entre a aptidão para poder fazer as
coisas e o momento em que o desejo – completamente abstraído aos critérios de licitude
ou moralidade – assoma ao espírito, associando a premissa inicial à própria
expressão da vida, sempre posposta aos desvarios da mente.
J.A.R. – H.C.
Celso Gutfreind
(n. 1963)
Poema com todos os
vícios
Oh! Como eu desejava
possuir mamãe...
Para isso teria de
matar papai.
Estava escrito em
todos os jornais,
papai se precavia espertamente,
e a morte tornava-se
difícil.
Hoje papai é
rabugento,
doente, fraco, fácil
de matar.
Mas cá entre nós,
mamãe
já não é lá essas
coisas.
Tudo isso prova
que a vida sempre
chega depois.
Em: “Hotelzinho da Sertório”
(1991)
Andrômaca e Astíanax
(Pierre-Paul Prud’hon:
pintor francês)
Referência:
GUTFREIND, Celso.
Poema com todos os vícios. In: VASQUES, Marco (Seleção e Organização). Moradas
de Orfeu: antologia poética. Apresentação de Péricles Prade. Florianópolis,
SC: Letras Contemporâneas, 2011. p. 225.
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