Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

A. R. Ammons - A Vida Incompleta

Em decorrência de uma presumível e avassaladora situação, na qual a dor instaura o seu império, sobrevém um estado em que emoções, sentimentos ou pensamentos não comportam transmutação às palavras, quando, então, a vida logo se defronta com um grande hiato – alguns diriam precipício, outros o apanágio para uma insigne remição metafísica.

 

Por quanto tempo duraria esse hiato a indeterminar a completude de uma vida? Ou ainda: em que ponto do tempo a consciência deixa de se amparar na realidade e nada mais há que represente o menor vestígio de vida? Ademais, alguém poderia inquirir se a vida seria um ‘continuum’ e, no fim, um pontilhado a se esvair; ou uma grande linha, interrompida aqui e ali por pontilhados, até que chegue à solidez marmórea da campa!

 

J.A.R. – H.C.

 

A. R. Ammons

(1926-2001)

 

The Incomplete Life

 

At the extreme

tip of

the future is

 

death, of course,

and short

of that something not

 

much like life,

a careless caring

and pain perhaps

 

one’s

ceasing ceases: an

experience whose

 

experience shuts

experience down:

at the

 

moment one has

the whole world’s way to

say one

 

is beyond words,

just words,

just beyond words.

 

Sono incorporado

(Lucas Nagel: artista suíço)

 

A Vida Incompleta

 

No ponto

extremo do

futuro está

 

a morte, é claro,

e, à parte

isso, algo não

 

muito parecido com a vida,

um zelo despreocupado

e a dor talvez

 

de alguém

o expirar cesse: uma

experiência cuja

 

prova encerra

a experiência:

nesse

 

momento, tem-se

o motivo para o mundo inteiro dizer

que alguém

 

está além das palavras,

meras palavras,

simplesmente além das palavras.

 

Referência:

 

AMMONS, A. R. The incomplete life. In: __________. Brink road: poems. Revised edition. New York, NY: W. W. Norton, 1997. p. 183.

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