Em decorrência de uma
presumível e avassaladora situação, na qual a dor instaura o seu império, sobrevém
um estado em que emoções, sentimentos ou pensamentos não comportam transmutação
às palavras, quando, então, a vida logo se defronta com um grande hiato –
alguns diriam precipício, outros o apanágio para uma insigne remição
metafísica.
Por quanto tempo
duraria esse hiato a indeterminar a completude de uma vida? Ou ainda: em que ponto
do tempo a consciência deixa de se amparar na realidade e nada mais há que
represente o menor vestígio de vida? Ademais, alguém poderia inquirir se a vida
seria um ‘continuum’ e, no fim, um pontilhado a se esvair; ou uma grande linha,
interrompida aqui e ali por pontilhados, até que chegue à solidez marmórea da
campa!
J.A.R. – H.C.
A. R. Ammons
(1926-2001)
The Incomplete Life
At the extreme
tip of
the future is
death, of course,
and short
of that something not
much like life,
a careless caring
and pain perhaps
one’s
ceasing ceases: an
experience whose
experience shuts
experience down:
at the
moment one has
the whole world’s way
to
say one
is beyond words,
just words,
just beyond words.
Sono incorporado
(Lucas Nagel: artista
suíço)
A Vida Incompleta
No ponto
extremo do
futuro está
a morte, é claro,
e, à parte
isso, algo não
muito parecido com a
vida,
um zelo despreocupado
e a dor talvez
de alguém
o expirar cesse: uma
experiência cuja
prova encerra
a experiência:
nesse
momento, tem-se
o motivo para o mundo
inteiro dizer
que alguém
está além das
palavras,
meras palavras,
simplesmente além das
palavras.
Referência:
AMMONS, A. R. The
incomplete life. In: __________. Brink road: poems. Revised edition. New
York, NY: W. W. Norton, 1997. p. 183.
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