A aurora não deixa que
algo escuso permaneça nas sombras, em especial quando se trata de um tema tão espinhoso
quanto a ocupação nazista em França, estando o poeta do lado da resistência a
tal regime autoritário e repressivo, tão contrário aos valores que defendia,
como a liberdade e a preponderância dos direitos humanos.
A quarta estrofe do
poema, com apenas dois versos, muito nos lembra – pelos referentes visuais – o
título e algumas linhas da música “Pra não dizer que não falei das flores” (1968),
de autoria do compositor paraibano Geraldo Vandré (n. 1935), um marco de
resistência à ditadura militar que galgara ao poder em Pindorama, depois do
golpe perpetrado em março de 1964.
J.A.R. – H.C.
Paul Éluard
(1895-1952)
L’Aube Dissout les
Monstres
Ils ignoraient
Que la beauté de l’homme
est plus grande que l’homme
Ils vivaient pour
penser ils pensaient pour se taire
Ils vivaient pour
mourir ils étaient inutiles
Ils recouvraient leur
innocence dans la mort
Ils avaient mis en
ordre
Sous le nom de
richesse
Leur misère leur
bien-aimée
Ils mâchonnaient des
fleurs et des sourires
Ils ne trouvaient de
cœur qu’au bout de leur fusil
Ils ne comprenaient
pas les injures des pauvres
Des pauvres sans
soucis demain
Des rêves sans soleil
les rendaient éternels
Mais pour que le
nuage se changeât en boue
Ils descendaient ils
ne faisaient plus tête au ciel
Toute leur nuit leur
mort leur belle ombre misère
Misère pour les
autres
Nous oublierons ces
ennemis indifférents
Une foule bientôt
Répétera la claire
flamme à voix très douce
La flamme pour nous
deux pour nous seuls patience
Pour nous deux en
tout lieu le baiser des vivants.
Dans: “Le Lit la
Table” (1944)
Amanhecer com Monstros
Marinhos
(William Turner:
pintor inglês)
A Alvorada Dissolve
os Monstros
Ignoravam
Que a beleza do homem
é maior do que o homem
Viviam para pensar
pensavam para calar-se
Viviam para morrer
eles eram inúteis
Recobravam a
inocência na morte
Tinham posto em ordem
Sob o nome de riqueza
Sua miséria sua
bem-amada
Mascavam flores e
sorrisos
Coração só
encontravam na ponta dos seus fuzis
Não compreendiam as
injúrias dos pobres
Dos pobres remidos
amanhã
Sonhos sem sol os
tomavam eternos
Mas para que a nuvem
virasse lama
Desciam não faziam
mais frente ao céu
Toda noite deles sua
morte sua bela sombra miséria
Miséria para os
outros
Esqueceremos esses inimigos
indiferentes
E logo uma multidão
Repetirá a chama
clara com a voz bem doce
A chama para nós dois
só para nós paciência
Para nós dois em toda
parte o beijo dos vivos.
Referência:
ÉLUARD, Paul. L’aube dissout
les monstres / A alvorada dissolve os monstros. Tradução de Cláudia Longhi
Farina. In: PAES, José Paulo (Organização, Nota Liminar e Posfácio). Transverso:
coletânea de poemas traduzidos. Edição bilíngue. Campinas, SP: Editora da
Unicamp, 1988. Em francês: p. 114; em português: p. 115.
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