Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 19 de agosto de 2023

Paul Éluard - A Alvorada Dissolve os Monstros

A aurora não deixa que algo escuso permaneça nas sombras, em especial quando se trata de um tema tão espinhoso quanto a ocupação nazista em França, estando o poeta do lado da resistência a tal regime autoritário e repressivo, tão contrário aos valores que defendia, como a liberdade e a preponderância dos direitos humanos.

 

A quarta estrofe do poema, com apenas dois versos, muito nos lembra – pelos referentes visuais – o título e algumas linhas da música “Pra não dizer que não falei das flores” (1968), de autoria do compositor paraibano Geraldo Vandré (n. 1935), um marco de resistência à ditadura militar que galgara ao poder em Pindorama, depois do golpe perpetrado em março de 1964.

 

J.A.R. – H.C.

 

Paul Éluard

(1895-1952)

 

L’Aube Dissout les Monstres

 

Ils ignoraient

Que la beauté de l’homme est plus grande que l’homme

 

Ils vivaient pour penser ils pensaient pour se taire

Ils vivaient pour mourir ils étaient inutiles

Ils recouvraient leur innocence dans la mort

 

Ils avaient mis en ordre

Sous le nom de richesse

Leur misère leur bien-aimée

 

Ils mâchonnaient des fleurs et des sourires

Ils ne trouvaient de cœur qu’au bout de leur fusil

 

Ils ne comprenaient pas les injures des pauvres

Des pauvres sans soucis demain

 

Des rêves sans soleil les rendaient éternels

Mais pour que le nuage se changeât en boue

Ils descendaient ils ne faisaient plus tête au ciel

 

Toute leur nuit leur mort leur belle ombre misère

Misère pour les autres

 

Nous oublierons ces ennemis indifférents

Une foule bientôt

Répétera la claire flamme à voix très douce

La flamme pour nous deux pour nous seuls patience

Pour nous deux en tout lieu le baiser des vivants.

 

Dans: “Le Lit la Table” (1944)

 

Amanhecer com Monstros Marinhos

(William Turner: pintor inglês)

 

A Alvorada Dissolve os Monstros

 

Ignoravam

Que a beleza do homem é maior do que o homem

 

Viviam para pensar pensavam para calar-se

Viviam para morrer eles eram inúteis

Recobravam a inocência na morte

 

Tinham posto em ordem

Sob o nome de riqueza

Sua miséria sua bem-amada

 

Mascavam flores e sorrisos

Coração só encontravam na ponta dos seus fuzis

 

Não compreendiam as injúrias dos pobres

Dos pobres remidos amanhã

 

Sonhos sem sol os tomavam eternos

Mas para que a nuvem virasse lama

Desciam não faziam mais frente ao céu

 

Toda noite deles sua morte sua bela sombra miséria

Miséria para os outros

 

Esqueceremos esses inimigos indiferentes

E logo uma multidão

Repetirá a chama clara com a voz bem doce

A chama para nós dois só para nós paciência

Para nós dois em toda parte o beijo dos vivos.

 

Referência:

 

ÉLUARD, Paul. L’aube dissout les monstres / A alvorada dissolve os monstros. Tradução de Cláudia Longhi Farina. In: PAES, José Paulo (Organização, Nota Liminar e Posfácio). Transverso: coletânea de poemas traduzidos. Edição bilíngue. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1988. Em francês: p. 114; em português: p. 115.

Nenhum comentário:

Postar um comentário