Ao ler-se este poema
de Frost, logo se percebe a sátira que empreende para censurar certas
organizações ou instituições que se pautam na mais cabal departamentalização, restringindo-se
disciplinadamente tão apenas ao que lhe foi atribuído administrativamente, sem
quaisquer chances de conceder arrimo, a quem quer que seja, sobre assunto que
não se delimite às suas competências.
O falante, de fato, tece
considerações acerca do mundo regrado das formigas e o quanto elas obedecem austeramente
aos seus instintos naturais de sobrevivência e organização coletiva, rigidamente
compartimentalizada, tudo para criar um contraponto em relação à sociedade
humana burocratizada, tão impessoal e fria quando, semelhantemente, obedece,
sem a necessária razoabilidade, a regulamentos de estandardização e de arregimentação.
J.A.R. – H.C.
Robert Frost
(1874-1963)
Departmental
An ant on the
tablecloth
Ran into a donnant
moth
Of many times rus
size
He showed not the
least surprise.
His business wasn’t with
such.
He gave it scarcely a
touch,
And was off on rus
duty run.
Yet if he encountered
one
Of the hive’s enquiry
squad
Whose work is to find
out God
And the nature of
time and space,
He would put him onto
the case.
Ants are a curious
race;
One crossing with hurried
tread
The body of one of
their dead
Isn’t given a moment’s
arrest –
Seems not even
impressed.
But he no doubt
reports to any
With whom he crosses
antennae,
And they no doubt
report
To the higher up at
court.
Then word goes forth
in Formic:
“Death’s come to
Jerry McCormic,
Our selfless forager
Jerry.
WiII the special
Janizary
Whose office it is to
bury
The dead of the
commissary
Go bring him home to
his people.
Lay him in state on a
sepal.
Wrap him for shroud
in a petal.
Embalm him with ichor
of nettle.
This is the word of
your Queen.”
And presently on the
scene
Appears a solemn
mortician,
And taking formal position
With feelers calmly
atwiddle,
Seizes the dead by
the middle,
And heaving him high
in air,
Carries him out of
there.
No one stands round
to stare.
It is nobody else’s
affair.
It couldn’t be called
ungentle.
But how thoroughly
departmental.
Formigas
(Spencer Meagher:
pintor norte-americano)
Departamental
Sobre a mesa, uma
formiga
Viu, na toalha
estendida,
Mariposa adormecida,
Muitas vezes seu
tamanho.
Mas não achou nada
estranho:
Tinha um setor
diferente.
Só a tocou levemente,
E seguiu em sua
missão.
Mas, se alguma do
esquadrão
Inquiridor da colmeia
Ao longe se delineia,
Cruzando os caminhos
seus,
Ou na procura de Deus
Ou à cata de algum
traço
Da essência de tempo
e espaço,
Nesse caso não hesita.
Formigas, raça
esquisita!
Quando uma avista,
apressada,
O corpo de uma
finada,
Não se detém um
momento, –
Parece que não dá
tento.
Mas relata isto às
centenas
Com as quais cruza as
antenas.
E estas relatam a
morte
Às mais altas lá na
corte.
E a mensagem passa em
fórmico:
“Finou-se Geralda Córmico,
Provedora sem igual.
Que o Janízaro
especial,
Que faz o sepultamento
Das mortas do
suprimento,
A deite cora sua
gente.
Arme-lhe a câmara
ardente
Sobre o galho de uma
sépala.
Na mortalha de uma
pétala
Envolva aquela
formiga.
Embalsame-a com
urtiga.
Assim a Rainha
ordena.”
Logo a seguir, entra
em cena
Um agente funerário,
Que, formal e
solitário.
Aos sensores dá um
volteio,
Pega a morta pelo
meio
E, depois de erguê-la
no ar,
Leva-a para outro
lugar.
Ninguém assiste ao
serviço.
Ninguém tem nada com
isso.
Decerto não é brutal.
Mas quão
departamental.
Referência:
FROST, Robert.
Departmental / Departamental. Tradução de Paulo Vizioli. In: VIZIOLI, Paulo
(Seleção e Tradução). Poetas norte-americanos. Edição comemorativa do
bicentenário da independência dos Estados Unidos da América: 1776-1976.
Antologia bilíngue. São Paulo, SP: Editora Lidador, 1974. Em inglês e
português: p. 60-61.
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