Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Allen Ginsberg - Uma Profecia

Esta profecia, em meados de 68, decerto encontra eco diante dos fatos que então se desenrolavam no âmbito interno e, mais amplamente, no plano da geopolítica internacional, neste caso, em direta conexão com a ignominiosa guerra que os EUA levavam à frente em terras distantes, digo melhor, no Vietnã.

 

Ginsberg dirige-se aos “bardos futuros”, por ele tidos como mais aptos a denunciar as imposturas sociais e culturais de um governo intransparente, opressivo ao ponto de se pretender poderes discricionários para subjugar as mentes individuais, estropiando-lhes a crítica e a consciência, atirando-as numa espécie de calabouço.

 

Em oposição a tais afrontas, contestadora e desalienante, a “linguagem” do poeta se emancipa pelas sendas da transcendência individual, passando a valer bem mais por suas mensagens compromissadas do que por quaisquer critérios normativos, sintáticos ou até mesmo estéticos.

 

J.A.R. – H.C.

 

Allen Ginsberg

(1926-1997)

 

A Prophecy

 

O Future bards

chant from skull to heart to

as long as language lasts

Vocalize all chords

zap all consciousness

I sing out of mind jail

in New York State

without electricity

rain on the mountain

thought fills cities

I’ll leave my body

in a thin motel

my self escapes

through unborn ears

Not my language

but a voice

chanting in patterns

survives on earth

not history’s bones

but vocal tones

Dear breaths and eyes

shine in the skies

where rockets rise

to take me home

 

May 1968

 

In: “The Fall of America” (1973)

 

Anoitecer em Nova Iorque

(Olha V. Darchuk: artista ucraniana)

 

Uma Profecia

 

Ó futuros bardos

cantem do crânio ao coração ao cu

enquanto a linguagem perdure

Vocalizem todos os acordes

frequentem toda a consciência

Eu canto além da prisão da mente

no Estado de Nova Iorque

sem eletricidade

chove sobre a montanha

pensamento inunda cidades

Vou deixar meu corpo

num hotel caro

eu me escapo

por ouvidos não nascidos

Não minha linguagem

mas uma voz

cantando em padrões

sobrevive na terra

não ossos históricos

mas tons vocálicos

Hálitos olhos amados

brilham nos céus amplos

de foguetes preparados

para me levar para casa

 

Maio 1968

 

Em: “A Queda da América” (1973)

 

Referência:

 

GINSBERG, Allen. A prophecy / Uma profecia. Tradução de Cesar Kiraly. In: __________. PoemasEdição especial. Tradução de Cesar Kiraly. Natal, RN: 7faces, mar. 2016. Em inglês: p. 69; em português: p. 70. (Caderno-revista de poesia). Edição eletrônica disponível neste endereço. Acesso em: 4 ago. 2023.

 

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