Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

António Dias Cardoso - Poema Panfletário

O ente lírico põe-se a anunciar – a “panfletar”, assumindo a dicção imposta ao título do poema – uma utopia social futura, assente em “pedras e palavras” – “certas, necessárias, duras, suaves e seguras”: libelos por outras formas de vida, pela instauração de uma “casa nova” que represente caminhos ainda não trilhados rumo à alegria.

 

É que o mundo à volta não tem estabilidade em suas sendas, todas elas “movediças” porque provenientes de um projeto agônico de dominação, daí os motivos para se pensar em realidades alternativas, não uma utopia desvairada de um nefelibata inconsequente, senão um empreendimento que, orientado à paz social, se paute por exequibilidade empírica e sustentabilidade equilibrada.

 

J.A.R. – H.C.

 

António Dias Cardoso

(1933-2006)

 

Poema Panfletário

 

Duras serão as pedras no chão que pisaremos.

Por serem duras é que abandonei

Os caminhos movediços

Deste mundo em agonia...

 

Suaves serão as palavras que falaremos.

Por serem suaves é que abandonei

Os caminhos movediços

Deste mundo em agonia...

 

Pedras e palavras: certas, necessárias

Duras, suaves e seguras.

E uma casa nova.

E caminhos novos de alegria...

 

Origens

(Eduardo R. Calzado: artista mexicano)

 

Referência:

 

CARDOSO, António Dias. Poema panfletário. In: VASCONCELOS, Adriano Botelho de. (Ed.). Todos os sonhos: antologia da poesia moderna angolana. 2. ed. Luanda, AO: União dos Escritores Angolanos (UEA), 2008. p. 142. (‘Guaches da Vida’)

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