O ente lírico põe-se
a anunciar – a “panfletar”, assumindo a dicção imposta ao título do poema – uma
utopia social futura, assente em “pedras e palavras” – “certas, necessárias, duras,
suaves e seguras”: libelos por outras formas de vida, pela instauração de uma “casa
nova” que represente caminhos ainda não trilhados rumo à alegria.
É que o mundo à volta
não tem estabilidade em suas sendas, todas elas “movediças” porque provenientes
de um projeto agônico de dominação, daí os motivos para se pensar em realidades
alternativas, não uma utopia desvairada de um nefelibata inconsequente, senão um
empreendimento que, orientado à paz social, se paute por exequibilidade empírica
e sustentabilidade equilibrada.
J.A.R. – H.C.
António Dias Cardoso
(1933-2006)
Poema Panfletário
Duras serão as pedras
no chão que pisaremos.
Por serem duras é que
abandonei
Os caminhos movediços
Deste mundo em
agonia...
Suaves serão as
palavras que falaremos.
Por serem suaves é
que abandonei
Os caminhos movediços
Deste mundo em
agonia...
Pedras e palavras:
certas, necessárias
Duras, suaves e
seguras.
E uma casa nova.
E caminhos novos de
alegria...
Origens
(Eduardo R. Calzado:
artista mexicano)
Referência:
CARDOSO, António
Dias. Poema panfletário. In: VASCONCELOS, Adriano Botelho de. (Ed.). Todos
os sonhos: antologia da poesia moderna angolana. 2. ed. Luanda, AO: União
dos Escritores Angolanos (UEA), 2008. p. 142. (‘Guaches da Vida’)
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