Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 27 de agosto de 2023

Milton de Godoy Campos - Anti-Antero

Em notória conexão com o soneto “Tormento do Ideal”, do poeta lusitano Antero de Quental (1842-1891) – de onde transcreve parte do primeiro verso –, o autor paulista contrapõe a sua própria visão de uma beleza fugaz, passadiça, presa a determinado instante, consentânea com a solidão em que imerso e com a perspectiva de iminente visita das Parcas.

 

Átimo de eternidade sonhado por uma potestade, a beleza assenhoreada por Campos não se prende a uma ideia algo platônica – como em Quental –, mas se lhe revela contingente em seu subjetivo modo de transmutá-la aos versos, numa poesia “luminosa”, muito embora, por reciprocidade, “frágil e perecível”.

 

J.A.R. – H.C.

 

Milton de G. Campos

(n. 1927)

 

Anti-Antero

 

Eu não amo

“a beleza que não morre”

mas a frágil a perecível

a que se revela aos homens

apenas um momento

que é profundamente triste

que a luz conhece

apenas um instante

em toda a eternidade

que um deus sonhou

e esqueceu de perpetuar

em suas mãos vazias

que o tempo avassala

e o olvido retém

que ante o meu olhar

se esvai para sempre

e me deixa a sós

mas luminoso

com minha solidão

e minha morte.

 

Beleza Fugaz

(Emilia Milcheva: pintora búlgara)

 

Referência:

 

CAMPOS, Milton de Godoy. Anti-Antero. In: __________. Poemas e elegias. São Paulo, SP: Clube de Poesia; Editora do Escritor, 1977. p. 13.

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