A voz lírica demonstra
fascínio em relação ao fato de que todas as coisas na natureza se processam no
tempo certo, guardando as suas relações de dependência, neste caso, em
particular, ao fazer alusão às cadeias alimentares, permitindo, desse modo, que
as diversas formas de vida perdurem e evoluam no tempo, sob climas e estações
que lhes sejam favoráveis.
Vida e morte,
periodicidade e renovação: uma escrita “hieroglífica” de incógnitos
significados, presente nos encadeamentos espontâneos da natureza, como estímulo
mental para a humanidade perceber o quão incompleto ainda está o arsenal de que
dispõe para bem explicar as relações de dependência em que imersa (isto sem
contar aquelas adjetivadas como “conexões ocultas”, um oceano de insipiência!).
J.A.R. – H.C.
Howard Nemerov
(1920-1991)
The Dependencies
This morning, between
two branches of a tree
Beside the door,
epeira once again
Has spun and signed
his tapestry and trap.
I test his
early-warning system and
It works, he
scrambles forth in sable with
The yellow hieroglyph
that no one knows
The meaning of. And I
remember now
How yesterday at dusk
the nighthawks came
Back as they do about
this time each year,
Grey squadrons with
the slashes white on wings
Cruising for bugs
beneath the bellied cloud.
Now soon the monarchs
will be drifting south,
And then the geese
will go, and then one day
The little garden
birds will not be here.
See how many leaves
already have
Withered and turned,
a few have fallen, too.
Change is continuous
on the seamless web,
Yet moments come like
this one, when you feel
Upon your heart a
signal to attend
The definite announcement
of an end
Where one thing
ceases and another starts;
When like the spider
waiting on the web
You know the
intricate dependencies
Spreading in secret
through the fabric vast
Of heaven and earth,
sending their messages
Ciphered in chemistry
to all the kinds,
The whisper down the
bloodstream: it is time.
In: “The Western
Approaches” (1975)
Uma Aranha
(Tayyar Özkan:
artista turco)
As Dependências
Esta manhã, entre
dois ramos de uma árvore
Ao lado da porta, a
epeira (1) voltou
A tecer e firmar sua tapeçaria
e seu ardil.
O seu sistema
expedito de alerta funciona
Quando o testo, avançando
num fato negro com
O hieróglifo amarelo,
do qual ninguém atina
Sobre o seu
significado. E agora recordo
Como ontem, ao
anoitecer, os curiangos (2)
Regressavam como o
fazem todo ano nesta época,
Legiões cinzentas com
brancas nesgas nas asas,
Movendo-se à cata de
insetos sob a nuvem túmida.
Logo então as
monarcas (3) seguirão à deriva para o sul,
Os gansos em seguida e,
mais alguns dias,
Aqui já não estarão os
pequenos pássaros do jardim.
Veja quantas folhas
já se mostram
Ressequidas e retorcidas,
algumas até caíram.
A mudança é contínua
na rede inconsútil,
Contudo, surgem
momentos como este, quando se sente
No coração um sinal
para assistir
Ao definitivo anúncio
de um epílogo,
Onde uma coisa
termina e outra começa;
Quando, como a aranha
à espera na teia,
Se conhecem as
intricadas dependências
Que se espalham em
segredo através do vasto tecido
Do céu e da terra,
enviando as suas cifradas
Mensagens em química
para todos os tipos,
O sussurro a manar
pela corrente sanguínea: está na hora.
Em: “Os Enfoques
Ocidentais” (1975)
Notas:
(1). Epeira: pequena
aranha que fia grandes teias verticais e regulares em bosques e jardins.
(2). Curiango: ave de
hábitos migratórios e noturnos, que se alimenta predominantemente de insetos.
(3). Monarca: variedade
de borboleta dos EUA, do gênero “Danaus Plexippus”.
Referência:
NEMEROV, Howard. The
dependencies. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary
american poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p.
120-121.
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