Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 26 de agosto de 2023

Howard Nemerov - As Dependências

A voz lírica demonstra fascínio em relação ao fato de que todas as coisas na natureza se processam no tempo certo, guardando as suas relações de dependência, neste caso, em particular, ao fazer alusão às cadeias alimentares, permitindo, desse modo, que as diversas formas de vida perdurem e evoluam no tempo, sob climas e estações que lhes sejam favoráveis.

 

Vida e morte, periodicidade e renovação: uma escrita “hieroglífica” de incógnitos significados, presente nos encadeamentos espontâneos da natureza, como estímulo mental para a humanidade perceber o quão incompleto ainda está o arsenal de que dispõe para bem explicar as relações de dependência em que imersa (isto sem contar aquelas adjetivadas como “conexões ocultas”, um oceano de insipiência!).

 

J.A.R. – H.C.

 

Howard Nemerov

(1920-1991)

 

The Dependencies

 

This morning, between two branches of a tree

Beside the door, epeira once again

Has spun and signed his tapestry and trap.

I test his early-warning system and

It works, he scrambles forth in sable with

The yellow hieroglyph that no one knows

The meaning of. And I remember now

How yesterday at dusk the nighthawks came

Back as they do about this time each year,

Grey squadrons with the slashes white on wings

Cruising for bugs beneath the bellied cloud.

Now soon the monarchs will be drifting south,

And then the geese will go, and then one day

The little garden birds will not be here.

See how many leaves already have

Withered and turned, a few have fallen, too.

Change is continuous on the seamless web,

Yet moments come like this one, when you feel

Upon your heart a signal to attend

The definite announcement of an end

Where one thing ceases and another starts;

When like the spider waiting on the web

You know the intricate dependencies

Spreading in secret through the fabric vast

Of heaven and earth, sending their messages

Ciphered in chemistry to all the kinds,

The whisper down the bloodstream: it is time.

 

In: “The Western Approaches” (1975)

 

Uma Aranha

(Tayyar Özkan: artista turco)

 

As Dependências

 

Esta manhã, entre dois ramos de uma árvore

Ao lado da porta, a epeira (1) voltou

A tecer e firmar sua tapeçaria e seu ardil.

O seu sistema expedito de alerta funciona

Quando o testo, avançando num fato negro com

O hieróglifo amarelo, do qual ninguém atina

Sobre o seu significado. E agora recordo

Como ontem, ao anoitecer, os curiangos (2)

Regressavam como o fazem todo ano nesta época,

Legiões cinzentas com brancas nesgas nas asas,

Movendo-se à cata de insetos sob a nuvem túmida.

Logo então as monarcas (3) seguirão à deriva para o sul,

Os gansos em seguida e, mais alguns dias,

Aqui já não estarão os pequenos pássaros do jardim.

Veja quantas folhas já se mostram

Ressequidas e retorcidas, algumas até caíram.

A mudança é contínua na rede inconsútil,

Contudo, surgem momentos como este, quando se sente

No coração um sinal para assistir

Ao definitivo anúncio de um epílogo,

Onde uma coisa termina e outra começa;

Quando, como a aranha à espera na teia,

Se conhecem as intricadas dependências

Que se espalham em segredo através do vasto tecido

Do céu e da terra, enviando as suas cifradas

Mensagens em química para todos os tipos,

O sussurro a manar pela corrente sanguínea: está na hora.

 

Em: “Os Enfoques Ocidentais” (1975)

 

Notas:

 

(1). Epeira: pequena aranha que fia grandes teias verticais e regulares em bosques e jardins.

 

(2). Curiango: ave de hábitos migratórios e noturnos, que se alimenta predominantemente de insetos.

 

(3). Monarca: variedade de borboleta dos EUA, do gênero “Danaus Plexippus”.

 

Referência:

 

NEMEROV, Howard. The dependencies. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary american ‎‎poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House ‎‎Inc.), march 2003. p. 120-121.

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