Quiçá o desenvolvimento
deste soneto diga respeito não aos regressos intermediários de D. Quixote a
casa, senão ao retorno final, quando vencido em duelo contra o Cavaleiro da Lua
– nomeadamente Sansão Carrasco –, teve que cumprir a promessa de deixar de vez
a cavalaria e voltar ao seio familiar, se perdedor na luta.
Mas lucidez, mesmo,
somente no leito de morte, sendo tudo mais sonhos, fabulações, alucinações que
tomaram conta do “cavaleiro da triste figura”, até que, por fim, caindo doente
e pressentindo a morte, dispôs-se a mandar chamar o barbeiro, a confessar-se
perante o padre e a elaborar suas disposições de última vontade, digo melhor, subscrever
seu testamento.
J.A.R. – H.C.
Augusto Frederico
Schmidt
(1906-1965)
Volta de D. Quixote
De ideias pastoris,
de doces sonhos,
De idílicos amores
pelos campos,
De tranquilas, arcádicas
e amenas
Aspirações, trazias a
alma cheia.
Voltavas de penosa
caminhada,
De aventuras, de
riscos e perigos,
De tormentos sem par;
cansado vinhas
Como magro corpo
doente malferido.
Eras a sombra do teu
próprio sonho,
Sombra esguia, fantástica,
tristonha,
Vencida pelos maus
encantadores.
No entanto ias
criando formas novas
De vida; e em lugar
do silêncio e da mortalha,
Sobre as ruínas do
sonho ainda sonhavas...
Dom Quixote e Sancho
Pança
(John Gilbert: pintor
inglês)
Referência:
SCHMIDT, Augusto
Frederico. A volta de D. Quixote. In: __________. O caminho do frio:
poesias. Rio de Janeiro, GB: Livraria José Olympio Editora, 1964. p. 16.
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