Levtchev evoca os
efeitos das noites brancas no círculo polar – ártico, no caso, pois faz menção
à Escandinávia –, em suas horas intermináveis, como se reiterações da morte
fossem, durante as quais o falante não consegue adormecer, passando a monologar
de si para si sobre questões existenciais e à volta de dilemas que se consubstanciam
num “avançar condenado”.
A lírica do poeta
búlgaro tem um quê de idealista naquilo a que se propõe, vale dizer, afirmar
uma espécie de nova ética, novas dimensões nos domínios ideológicos e morais da
sociedade: as metáforas empregadas por Levtchev apontam para nébulas de
desilusão, de onde espera emergir dando sentido aos seus impulsos, realizando
suas expectativas, para assim alcançar “algum instante de alguma eternidade”.
J.A.R. – H.C.
Liubomir Levtchev
(1935-2019)
Полярен Кръг
Безкрайна скандинавска нощ –
репетиция за смърт...
Но не заспивам.
Звездите,
като кучешки очи,
ту се загубват,
ту пак в мен се впиват.
И се просмуква бялото съмнение
и се съглеждам
не чак толкоз млад...
Кому е нужно моето движение?
Не е ли неспасяем този свят?
Нали учените,
платени
от най-богати монополи,
днес доказват:
че космосът се разширява
и че галактиките се отдалечават,
и че пространството велико се опразва,
и всичко стине
и се отчуждава
подобно минало
от бъдеще...
А аз...
Аз се опитвам да сближавам!
Да свързвам!..
Смешен
и осъден...
...Аз мразя мрачните пророци!
Ако желае господ,
нека да продава
небесната си плоча за надстройка!...
Сега
бих предпочел
природата да слушам,
в безкрайна скандинавска нощ...
Студено е...
Скимти вселенски вихър.
И като неопитомено куче
промъква се треперещия космос,
за да се стопли на сърцето ми -
за да се стопли на сърце човешко!
Макар
за някакъв си миг,
от някакъв си двайсти век,
от някаква си вечност!...
Monte Mckinley sob a
névoa
(Sydney Laurence:
pintor norte-americano)
O Círculo Polar
Interminável noite
escandinava,
Repetição da morte...
Mas, não consigo
adormecer.
Como olhos de cão,
As estrelas ora
desaparecem
Ora penetram até o
fundo do meu ser.
E então a dúvida se
infiltra.
Já não me vejo
mais jovem...
Por conseguinte, de
que serve minha correria?
Este mundo não é,
então, uma causa perdida?
Os sábios,
estipendiados
Por riquíssimos
monopólios,
Em nossos dias não
demonstram
Que o cosmo se amplia,
Que as galáxias se
afastam,
Que as imensidões do
espaço se esvaziam,
Que tudo se torna
gélido,
Torna-se estranho,
Conforme será o
passado
no futuro...
E eu...
Eu que procuro
aproximar;
que tento unir!
Ridículo
Avançar condenado!...
...Não tenho senão
ódio pelos profetas do infortúnio!
Se Deus quisesse,
Poderia vender sua
moradia celeste
A fim de construirmos
por cima...
Mas neste momento
preferiria
Ouvir a natureza
Na interminável noite
escandinava...
Como faz frio...
Esganiça a rajada de
vento universal.
O cosmo tiritante
penetra meu coração
Como um cão selvagem
A fim de se aguentar
aconchegado a um coração humano.
Nem que fosse um
instante,
Um instante fagueiro
de algum século vinte.
Algum instante de
alguma eternidade!
Referências:
Em Búlgaro
Левчев, Любомир. Полярен кръг. Disponível neste
endereço. Acesso em: 30 jun. 2022.
Em Português
LEVTCHEV, Liubomir. O
círculo polar. Tradução de Attílio Cancian. In: __________. O caminho das
estrelas: poesias. Tradução de Attílio Cancian. São Paulo, SP: Montanha
Editora, 1976. p. 73-76.
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