Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 6 de julho de 2022

Liubomir Levtchev - O Círculo Polar

Levtchev evoca os efeitos das noites brancas no círculo polar – ártico, no caso, pois faz menção à Escandinávia –, em suas horas intermináveis, como se reiterações da morte fossem, durante as quais o falante não consegue adormecer, passando a monologar de si para si sobre questões existenciais e à volta de dilemas que se consubstanciam num “avançar condenado”.

 

A lírica do poeta búlgaro tem um quê de idealista naquilo a que se propõe, vale dizer, afirmar uma espécie de nova ética, novas dimensões nos domínios ideológicos e morais da sociedade: as metáforas empregadas por Levtchev apontam para nébulas de desilusão, de onde espera emergir dando sentido aos seus impulsos, realizando suas expectativas, para assim alcançar “algum instante de alguma eternidade”.

 

J.A.R. – H.C.

 

Liubomir Levtchev

(1935-2019)

 

Полярен Кръг

 

Безкрайна скандинавска нощ –

репетиция за смърт...

Но не заспивам.

Звездите,

като кучешки очи,

ту се загубват,

ту пак в мен се впиват.

И се просмуква бялото съмнение

и се съглеждам

не чак толкоз млад...

Кому е нужно моето движение?

Не е ли неспасяем този свят?

Нали учените,

платени

от най-богати монополи,

днес доказват:

че космосът се разширява

и че галактиките се отдалечават,

 

и че пространството велико се опразва,

и всичко стине

и се отчуждава

подобно минало

от бъдеще...

 

А аз...

Аз се опитвам да сближавам!

Да свързвам!..

 

Смешен

и осъден...

 

...Аз мразя мрачните пророци!

 

Ако желае господ,

нека да продава

небесната си плоча за надстройка!...

 

Сега

бих предпочел

природата да слушам,

в безкрайна скандинавска нощ...

 

Студено е...

Скимти вселенски вихър.

И като неопитомено куче

промъква се треперещия космос,

за да се стопли на сърцето ми -

за да се стопли на сърце човешко!

Макар

за някакъв си миг,

от някакъв си двайсти век,

от някаква си вечност!...

 

Monte Mckinley sob a névoa

(Sydney Laurence: pintor norte-americano)

 

O Círculo Polar

 

Interminável noite escandinava,

Repetição da morte...

Mas, não consigo adormecer.

Como olhos de cão,

As estrelas ora desaparecem

Ora penetram até o fundo do meu ser.

E então a dúvida se infiltra.

Já não me vejo

mais jovem...

 

Por conseguinte, de que serve minha correria?

Este mundo não é, então, uma causa perdida?

Os sábios,

estipendiados

Por riquíssimos monopólios,

Em nossos dias não demonstram

Que o cosmo se amplia,

Que as galáxias se afastam,

Que as imensidões do espaço se esvaziam,

Que tudo se torna gélido,

Torna-se estranho,

Conforme será o passado

no futuro...

E eu...

Eu que procuro aproximar;

que tento unir!

Ridículo

Avançar condenado!...

 

...Não tenho senão ódio pelos profetas do infortúnio!

 

Se Deus quisesse,

Poderia vender sua moradia celeste

A fim de construirmos por cima...

Mas neste momento preferiria

Ouvir a natureza

Na interminável noite escandinava...

 

Como faz frio...

Esganiça a rajada de vento universal.

O cosmo tiritante penetra meu coração

Como um cão selvagem

A fim de se aguentar aconchegado a um coração humano.

Nem que fosse um instante,

Um instante fagueiro de algum século vinte.

Algum instante de alguma eternidade!

 

Referências:

 

Em Búlgaro

 

Левчев, Любомир. Полярен кръг. Disponível neste endereço. Acesso em: 30 jun. 2022.

 

Em Português

 

LEVTCHEV, Liubomir. O círculo polar. Tradução de Attílio Cancian. In: __________. O caminho das estrelas: poesias. Tradução de Attílio Cancian. São Paulo, SP: Montanha Editora, 1976. p. 73-76.

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