Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 4 de julho de 2022

Dudley Randall - Rosas e Revoluções

Randall, poeta afro-americano, discorre nestes versos sobre o seu sonho de igualdade para os negros de seu país, assim como o fizeram muitos outros grandes nomes da causa negra nos EUA, como Luther King, Malcolm X e mesmo o também poeta Langston Hughes.

 

Veja-se que o poema é do final da década de quarenta do século passado, quando os padrões discriminatórios por questão de raça eram bem mais acirrados que hoje, setenta depois: nada obstante, os negros continuam, segundo os dados para o ano de 2000, como a maioria a compor os quase quarenta milhões de norte-americanos que vivem abaixo da linha oficial de pobreza.

 

J.A.R. – H.C.

 

Dudley Randall

(1914-2000)

 

Roses and Revolutions

 

Musing on roses and revolutions,

I saw night close down on the earth like a great dark wing,

and the lighted cities were like tapers in the night,

and I heard the lamentations of a million hearts

regretting life and crying for the grave,

and I saw the Negro lying in the swamp with his face blown off,

and in northern cities with his manhood maligned and felt the writhing

of his viscera like that of the hare hunted down or the bear at bay,

and I saw men working and taking no joy in their work

and embracing the hard-eyed whore with joyless excitement

and lying with wives and virgins in impotence.

 

And as I groped in darkness

and felt the pain of millions,

gradually, like day driving night across the continent,

I saw dawn upon them like the sun a vision

of a time when ali men walk proudly through the earth

and the bombs and missiles lie at the bottom of the ocean

like the bones of dinosaurs buried under the shale of eras,

and men strive with each other not for power or the accumulation of paper

but in joy create for others the house, the poem, the game of

athletic beauty.

 

Then washed in the brightness of this vision,

I saw how in its radiance would grow and be nourished and suddenly

burst into terrible and splendid bloom

the blood-red flower of revolution.

 

April 26, 1948

 

O Triunfo da Revolução

(Diego Rivera: pintor mexicano)

 

Rosas e Revoluções

 

Meditando a respeito de rosas e revoluções,

vi a noite fechar-se sobre a terra como uma grande e escura asa,

e as cidades iluminadas eram como círios na noite,

e escutei os lamentos de um milhão de corações

queixando-se da vida e clamando pelo túmulo,

e vi o Negro estendido no pântano com o rosto rebentado,

e com sua virilidade difamada nas cidades do norte

e senti o contorcer-se de suas vísceras como as de uma lebre acossada

ou as de um urso encurralado,

e vi homens labutando sem alegria em seu trabalho

e abraçando a rameira de duros olhos com abatida excitação

e deitando-se impotentes com esposas e virgens.

 

E enquanto tateava pela escuridão

e sentia a dor de milhões,

gradualmente, como se fosse o dia a conduzir a noite pelo continente,

vi a alvorada sobre eles como o sol de uma visão

de um tempo em que os homens caminham orgulhosamente pela terra

e as bombas e os mísseis jazem no fundo do oceano

como os ossos dos dinossauros enterrados sob o xisto das eras,

e os homens lutam entre si não pelo poder ou pelo acúmulo de papel

mas na alegria de criar para os outros a casa, o poema, o jogo de

atlética beleza.

 

Então, banhado no brilho desta visão,

vi como em seu resplendor cresceria e se nutriria e, de pronto,

irromperia em florescência terrível e esplêndida

a flor vermelho-sangue da revolução.

 

26 de abril de 1948

 

Referência:

 

RANDALL, Dudley. Roses and revolutions. In: HALL, Donald (Ed.). Contemporary american poetry. Revised and enlarged edition. Selected and introduced by Donald Hall. 2nd ed. Kingsport, TN: Penguin Books, 1974. p. 43.

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