A aconselhar que se
renuncie a toda mundanidade, o ente lírico translada o sentido de êxito nesta
vida de ambições para a vitória sobre si mesmo, já que a contraprestação que
invariavelmente se obtém, diante de tanta fadiga, não passa de morte e olvido: o
verdadeiro corretivo e a verdadeira regeneração seriam as da alma.
Diante dessa preleção
de renúncia a toda vaidade terrena, logo a associamos às palavras do Coélet no
Eclesiastes, que, tendo experimentado dos prazeres, da agitação e dos bens do
mundo, percebe no outono de sua existência a “vaidade das vaidades” sempre
presente no coração dos homens, alheios ao sentido transcendente da vida.
J.A.R. – H.C.
Francisco de Aldana
(1537-1578)
Reconocimiento de la
Vanidad del Mundo
En fin, en fin, tras
tanto andar muriendo,
tras tanto varïar
vida y destino,
tras tanto de uno en
otro desatino,
pensar todo apretar,
nada cogiendo;
tras tanto acá y
allá, yendo y viniendo
cual sin aliento,
inútil peregrino;
¡oh Dios!, tras tanto
error del buen camino
yo mismo de mi mal
ministro siendo,
hallo, en fin, que
ser muerto en la memoria
del mundo es lo mejor
que en él se asconde,
pues es la paga dél
muerte y olvido;
y en un rincón vivir
con la vitoria
de sí, puesto el
querer tan sólo adonde
es premio el mismo
Dios de lo servido.
Vaidade e
Autorretrato
(Gustave-Victor
Cousin: pintor francês)
Reconhecimento da
Vaidade do Mundo
Enfim, após eu tanto
andar morrendo,
após tanto variar
vida e destino,
após tanto, de um em
outro desatino,
pensar tudo agarrar,
nada colhendo,
após tanto cá e lá
andar correndo,
qual sem alento
inútil peregrino,
Deus!, após tanto
errar no bom caminho,
eu mesmo de meu mal
um servo sendo,
acho, enfim, que ser
morto na memória
do mundo é o melhor
que aí se esconde,
pois é a paga da
morte e do olvido,
e viver num ermo com
a vitória
de si, posta a
vontade somente onde
o próprio Deus é
prêmio do servido.
Referências:
Em Espanhol
ALDANA, Francisco de.
Reconocimiento de la vanidad del mundo. In: BLECUA, José Manuel (Edición,
introducción y notas). Poesía de la edad de oro. Volumen I:
Renacimiento. 3. ed. Madrid, ES: Castalia, 2003. p. 283-284. (‘Clásicos
Castalia’)
Em Português
ALDANA, Francisco de.
Reconhecimento da vaidade do mundo. Tradução de José Bento. In: BENTO, José (Selecção,
tradução, prólogo e notas). Antologia da poesia espanhola do ‘siglo de oro’.
Primeiro Volume: Renascimento. Lisboa, PT: Assírio & Alvim, 1993. p. 262.
(‘Documenta Poética’; n. 21)
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário