Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 3 de julho de 2022

Francisco de Aldana - Reconhecimento da Vaidade do Mundo

A aconselhar que se renuncie a toda mundanidade, o ente lírico translada o sentido de êxito nesta vida de ambições para a vitória sobre si mesmo, já que a contraprestação que invariavelmente se obtém, diante de tanta fadiga, não passa de morte e olvido: o verdadeiro corretivo e a verdadeira regeneração seriam as da alma.

 

Diante dessa preleção de renúncia a toda vaidade terrena, logo a associamos às palavras do Coélet no Eclesiastes, que, tendo experimentado dos prazeres, da agitação e dos bens do mundo, percebe no outono de sua existência a “vaidade das vaidades” sempre presente no coração dos homens, alheios ao sentido transcendente da vida.

 

J.A.R. – H.C.

 

Francisco de Aldana

(1537-1578)

 

Reconocimiento de la Vanidad del Mundo

 

En fin, en fin, tras tanto andar muriendo,

tras tanto varïar vida y destino,

tras tanto de uno en otro desatino,

pensar todo apretar, nada cogiendo;

tras tanto acá y allá, yendo y viniendo

cual sin aliento, inútil peregrino;

¡oh Dios!, tras tanto error del buen camino

yo mismo de mi mal ministro siendo,

hallo, en fin, que ser muerto en la memoria

del mundo es lo mejor que en él se asconde,

pues es la paga dél muerte y olvido;

y en un rincón vivir con la vitoria

de sí, puesto el querer tan sólo adonde

es premio el mismo Dios de lo servido.

 

Vaidade e Autorretrato

(Gustave-Victor Cousin: pintor francês)

 

Reconhecimento da Vaidade do Mundo

 

Enfim, após eu tanto andar morrendo,

após tanto variar vida e destino,

após tanto, de um em outro desatino,

pensar tudo agarrar, nada colhendo,

após tanto cá e lá andar correndo,

qual sem alento inútil peregrino,

Deus!, após tanto errar no bom caminho,

eu mesmo de meu mal um servo sendo,

acho, enfim, que ser morto na memória

do mundo é o melhor que aí se esconde,

pois é a paga da morte e do olvido,

e viver num ermo com a vitória

de si, posta a vontade somente onde

o próprio Deus é prêmio do servido.

 

Referências:

 

Em Espanhol

 

ALDANA, Francisco de. Reconocimiento de la vanidad del mundo. In: BLECUA, José Manuel (Edición, introducción y notas). Poesía de la edad de oro. Volumen I: Renacimiento. 3. ed. Madrid, ES: Castalia, 2003. p. 283-284. (‘Clásicos Castalia’)

 

Em Português

 

ALDANA, Francisco de. Reconhecimento da vaidade do mundo. Tradução de José Bento. In: BENTO, José (Selecção, tradução, prólogo e notas). Antologia da poesia espanhola do ‘siglo de oro’. Primeiro Volume: Renascimento. Lisboa, PT: Assírio & Alvim, 1993. p. 262. (‘Documenta Poética’; n. 21)

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