O poeta demarca o
tempo entre o passado e o futuro pela quantidade de linhas que já terá lido de
um poema: se já as leu, pertencem ao passado; se ainda as lerá, ao futuro, fora
do campo de percepção do leitor, seu discernimento, seu escrutínio. De resto, o
verso no instante mesmo da leitura seria o marco do tempo presente.
Tudo são palavras a
ocupar espaço, quer sejam lidas quer não, à mercê do tempo, quer tenham força
para perdurar quer facilmente erodidas e desvanecidas: a poesia esconde-se nos
versos à espera de que possa ressoar, de que seja capaz de reverberar na mente
do leitor outros sentidos da existência, no mais ostensivo presente, tal como o
entrevia Agostinho de Hipona – no presente do presente, no presente do futuro, no presente do passado.
J.A.R. – H.C.
Joan Brossa
(1919-1998)
El Temps
Aquest vers és el
present.
El vers que heu
llegit ja és el passat
– ja ha quedat enrera
després de la lectura –.
La resta del poema és
el futur,
que existeix fora de
la vostra
percepció.
Els mots
són aquí, tant si els
llegiu
com no. I cap poder
terrestre
no ho pot modificar.
(Shaista Momin:
artista paquistanesa)
O Tempo
Este verso é o
presente.
O verso que li já é o
passado
– já ficou para trás
depois da leitura –.
O resto do poema é o
futuro,
que existe fora da
sua
percepção.
As palavras
estão aqui, quer você
as leia,
quer não. E nenhum
poder terrestre
pode mudar isto.
Referência:
BROSSA, Joan. El
temps / O tempo. Tradução de Ronald Polito. Cacto: poesia & crítica,
São Paulo (SP), n. 1, p. 86-87, ago. 2002. Em catalão: p. 86; em português: p.
87.
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