Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 30 de julho de 2022

Wisława Szymborska - Resenha de um poema não escrito

A voz lírica, neste poema, é a de um crítico que, em sua resenha, faz terra arrasada de um poema redigido por certa autora – Wisława Szymborska, por que não?! –, em razão de sua alegada superficialidade, raciocínios imprecisos e sentidos equivocados atribuídos à existência humana: para ele, diante de estimativas probabilísticas avançadas, quem acreditaria que “estejamos mesmo sós sob o sol, sob todos os sóis do universo”?

 

Nos versos do poema, como em muitos outros de Szymborska, sempre aquela verve irônica por trás do discurso poético (com efeito, distante de qualquer pretenso rigor científico), conduzindo o leitor pela mão até o relicário de suas ilações, neste caso, infensas à ideia de uma caminhada às estrelas com o objetivo de solução para dilemas humanos ou de participação espiritual na “mente cósmica”.

 

Os argumentos declinados no poema objeto de crítica – o qual, afinal, não se conhece – aparecem aqui entremeados na exposição do falante, a exemplo das lucubrações de Pascal sobre o homem (“média entre tudo e nada”, perdido num universo infinito e desencantado, cujo centro está em toda parte e a circunferência em parte alguma), mas que ao crítico parecem vetustas, haja vista que suscitadas em meados do século XVII –, além de outras incursões filosóficas que teriam um desarrazoado propósito moral.

 

J.A.R. – H.C.

 

Wisława Szymborska

(1923-2012) 

 

Recenzja z nienapisanego wiersza

 

W pierwszych słowach utworu

autorka stwierdza, że Ziemia jest mała,

niebo natomiast duże do przesady,

a gwiazd, cytuję: więcej w nim niż trzeba.

 

W opisie nieba czuć pewną bezradność,

autorka gubi się w strasznym przestworze,

uderza ją martwota wielu planet

i wkrótce w jej umyśle (dodajmy: nieścisłym)

zaczyna rodzić się pytanie,

czy aby jednak nie jesteśmy sami

pod słońcem, pod wszystkimi na świecie słońcami?

 

Na przekór rachunkowi prawdopodobieństwa!

I powszechnemu dzisiaj przekonaniu!

Wbrew niezbitym dowodom, które lada dzień

mogą wpaść w ludzkie ręce! Ach, poezja.

 

Tymczasem nasza wieszczka powraca na Ziemię,

planetę, która może toczy się bez świadków,

jedyną science fiction, na jaką stać kosmos.

Rozpacz Pascala (1623-1662, przyp. nasz)

wydaje się autorce nie mieć konkurencji

na żadnej Andromedzie ani Kasjopei.

Wyłączność wyolbrzymia i zobowiązuje,

wyłania się więc problem jak żyć et cetera,

albowiem “pustka tego za nas nie rozstrzygnie”.

“Mój Boże, woła człowiek do Samego Siebie,

ulituj się nade mną, oświeć mnie

 

Autorkę gnębi myśl o życiu trwonionym tak lekko,

jakby go było w zapasie bez dna.

O wojnach, które – jej przekornym zdaniem –

przegrywane są zawsze po obydwu stronach.

O “państwieniu się (sic!) ludzi nad ludźmi.

Przez utwór prześwituje intencja moralna.

Pod mniej naiwnym piórem rozbłysłaby może.

 

Niestety, cóż. Ta z gruntu ryzykowna teza

(czy aby jednak nie jesteśmy sami

pod słońcem, pod wszystkimi na świecie słońcami)

i rozwinięcie jej w niefrasobliwym stylu

(mieszanina wzniosłości z mową pospolitą)

sprawiają, że któż temu wiarę da?

Z pewnością nikt. No właśnie.

 

In: “Wielka Liczba” (1976)

 

Fantasia Espacial

(Composição de autoria desconhecida)

 

Resenha de um poema não escrito

 

Nas primeiras palavras do poema

a autora afirma que a Terra é pequena,

o céu, por sua vez, grande até o exagero

e há nele, cito: “mais estrelas do que o necessário”.

 

Na descrição do céu dá para sentir certa impotência,

a autora se perde na horrível imensidão,

assusta-a a ausência de vida em tantos planetas

e logo na sua mente (acrescentemos: não exata)

começa a surgir uma pergunta,

será que afinal não estamos sós

sob o sol, sob todos os sóis do universo?

 

A despeito da teoria das probabilidades!

E da convicção hoje universal!

Malgrado as provas irrefutáveis que em breve

podem cair em mãos humanas! Ah, poesia.

 

Enquanto isso nossa profetisa volta à Terra,

planeta que talvez “gire sem testemunhas”,

única “ficção científica que o cosmo pode se permitir”.

O desespero de Pascal (1623-1662, nota nossa)

parece à autora não ter rival

em nenhuma Andrômeda ou Cassiopeia.

A exclusividade é destaque e compromisso;

surge então o problema: como viver et cetera,

já que “o vazio não o resolverá para nós”.

“Meu Deus, clama o homem para Si Mesmo,

tem piedade de mim, me ilumina”…

 

Aflige à autora a ideia da vida desperdiçada à toa

como se dela houvesse uma fonte inesgotável.

E das guerras que – na sua opinião contestadora –

são sempre perdidas pelos dois lados.

E do homem que “autoritormenta” (sic!) o homem.

Na obra transparece uma intenção moral.

Fosse uma escrita menos ingênua talvez brilhasse mais.

 

Mas enfim. Essa tese em essência arriscada

(de que talvez estejamos mesmo sós

sob o sol, sob todos os sóis do universo)

e seu desenvolvimento num estilo ligeiro

(uma mistura de solenidade e fala comum)

levam à pergunta: quem é que vai acreditar?

Com certeza ninguém. Pois é.

 

Em: “Um Grande Número” (1976)

 

Referência:

 

SZYMBORSKA, Wisława. Recenzja z nienapisanego wiersza / Resenha de um poema não escrito. Tradução de Regina Przybycien e Gabriel Borowski. In: __________. Para o meu coração num domingo. Seleção, tradução e prefácio de Regina Przybycien e Gabriel Borowski. 1. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2020. Em polonês: p. 150-151; em português: p. 152-153.

Nenhum comentário:

Postar um comentário