Enclausurada nos ergástulos
dos sentidos, a metafísica da natureza-morta contemplada pelo poeta peruano firma-se
vivaz nas texturas velosas, nas cores, nos reflexos da luz sobre os rebentos da
natureza e sobre os objetos, até mesmo nos efeitos sensuais engendrados pelos vocábulos
empregados, v.g., “desejo”, “desflorando-se”, “luxuriosos”.
Trata-se, obviamente,
de um exercício de transposição do que se reveste de beleza, de um gênero específico
de arte – a pintura, claro está –, para outro bem diverso – o ofício da palavra,
embora ambos com potencial para despertar semelhantes impactos sinestésicos em
quem se dispõe a apreender com desvelo o tema objeto de tais misteres.
J.A.R. – H.C.
Elí Martín
(1962-2001)
Metafísica del
Bodegón
A Miguel Brenner
Exhalando eximias veladuras
como atmósferas extasiándose
la pera roja enerva
et deseo
& la magenta col
se abre hasta el paroxismo
desflorándose
El misterio enajena
el transparente mantel
con apetecibles botellas
lilas
& el cesto expele
sus encantos
con extraviadas
berenjenas
como fresas
lujuriosas
Exóticas vasijas se
esfuman
hasta alcanzar la luz
que penetra por el mágico
umbral oscurecido.
Pera e Uvas
(Yana Golikova:
pintora russa)
Metafísica da
Natureza-morta
A Miguel Brenner
Exalando exímias
veladuras
como atmosferas
extasiando-se
a pera vermelha
enerva o desejo
& a couve magenta
abre-se ao paroxismo
desflorando-se
O mistério engalana o
transparente mantel
com apetecíveis
botelhas lilás
& o cesto expele seus
encantos
com extraviadas
berinjelas
como morangos
luxuriosos
Exóticas vasilhas se
esfumam
até que alcancem a
luz
a penetrar pelo
mágico
umbral escurecido.
Referência:
MARTÍN, Elí. Metafísica del bodegón. In: __________. Poemas como lienzos. 1. ed. Jesús María, PE: Fondo Editorial de la Universidad Inca Garcilaso de la Vega, mayo de 2003. p. 5. (Plaquete de tributo al poeta)
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