Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 15 de julho de 2022

Georg Trakl - O Sono

Bem ao estilo expressionista, os versos de Trakl arrimam, nas imagens suscitadas, ênfase no susto ou no sobressalto, diante de uma paisagem urbana pesarosa, apta a “destilar” os seus “venenos sombrios”, ou por equivalência, não exatamente um cenário pacífico para um sono reparador, senão de forças sinistras a colonizar um pesadelo.

 

O falante interage com o seu sono, descrevendo um sonho nele inserto, a transcorrer de noite num estranho jardim, cheio de animais apavorantes – serpentes, aranhas, morcegos, falenas –, quando então surge um forasteiro, um “sinistro corsário”, e sua sombra aumenta a “tribulação”. A epilogar o poema, pássaros brancos em fundo negro dão um contorno incisivo a essa tela citadina crispada pelo aço.

 

J.A.R. – H.C.

 

Georg Trakl

(1887-1914)

 

Der Schlaf

 

Verflucht ihr dunklen Gifte,

Weißer Schlaf!

Dieser höchst seltsame Garten

Dämmernder Bäume

Erfüllt von Schlangen, Nachtfaltern,

Spinnen, Fledermäusen.

Fremdling! Dein verlorner Schatten

Im Abendrot,

Ein finsterer Korsar

Im salzigen Meer der Trübsal.

Aufflattern weiße Vögel am Nachtsaum

Über stürzenden Städten

Von Stahl.

 

Sono

(Raphaël Collin: pintor francês)

 

O Sono

 

Amaldiçoados, veneno escuro,

Sono branco!

Este jardim estranhíssimo

De árvores entardecentes

Fartas de serpentes, falenas,

Aranhas, morcegos.

Forasteiro! Tua sombra perdida

No crepúsculo,

Um obscuro corsário

No mar salgado da tribulação.

Esvoaçam pássaros brancos na aba da noite

Sobre cadentes cidades

De aço.

 

Referência:

 

TRAKL, Georg. Der schlaf / O sono. Tradução de André Valias. Cacto: poesia & crítica, São Paulo (SP), n. 4, p. 87, primavera 2004. Em alemão e em português: p. 87.

 

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