Luto, perda, dor e
solidão são os temas conexos à metamorfose por que passa a poetisa inglesa, considerando
que a voz poética se lhe diga respeito: ela intui que o ambiente externo penetra
nos cômodos de sua casa, transformando-a numa espécie de árvore, quando então o
ambiente ganha contornos de um bosque.
O tempo parece não
correr, e os dias, em silêncio, correm estreitados pelas noites. A denotar
desamparo, como um gaio assustado a se mover ruidosamente através de uma intrincada
copa de folhas, a falante abre caminho pelas sendas do bosque, à procura de
quem a memória, irresignada, ainda não se desvaneceu.
J.A.R. – H.C.
Caroline Smith
(n. 1958)
Metamorphosis
Since you died, I
notice
the outside seeping
in.
There is the smell of
damp in my chair.
My skin hangs in
loose bracelets of bark
and my fingers
scratch against my face
like a branch walked
into.
A numbness is
spreading up my cold ankles
as my locked feet
take root.
The hands on my watch
stand
motionless as deer
against the trees,
pulling away with
long slow strides
dragging the nights
into silent days.
I call out, like a
startled jay
clattering up through
the canopy
of leaves closing
over me
as I search the
woodland paths
for traces of you.
Metamorfose
(Krysta Bernhardt:
artista norte-americana)
Metamorfose
Desde que morreste, noto
o exterior a infiltrar-se.
Há cheiro de umidade em minha cadeira.
Minha pele pende em braceletes soltos
de córtice
e meus dedos arranham-me o rosto
como se um ramo o houvesse penetrado.
Uma dormência difunde-se por meus
tornozelos frios
à medida que meus pés travados ganham
raízes.
Os ponteiros de meu relógio permanecem
imóveis como cervos contra as árvores,
afastando-se com longas e lentas
passadas
a arrastar a noite em meio a
silenciosos dias.
Grito, como um gaio assustado
a estardalhar por entre o dossel
de folhas fechando-se sobre mim,
enquanto procuro nas sendas do bosque
pelos teus vestígios.
Referência:
SMITH, Caroline. Metamorphosis.
In: ASTLEY, Neil (Ed.). Staying alive: real poems for unreal times. 1st.
ed. New York, NY: Miramax Books, 2003. p. 388.
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