À diferença da mãe,
mulher forte e perseverante na fé, Ungaretti teve a sua fase de incrédulo,
havendo retornado à religião católica apenas aos quarenta anos: este poema é
uma espécie de mensagem direcionada à mãe, já morta, redigido pouco depois de
retomado o credo cristão, quando então, reflete sobre a morte e se imagina
perante Deus, em julgamento.
Ungaretti recorre à
imagem da mãe segurando a mão do filho criança, como uma espécie de interveniente
junto ao Eterno, para que este lhe conceda o cogitado perdão e resgate, com o
que o poeta espera ter de volta um figurado e rápido suspiro nos olhos de sua “madre”.
J.A.R. – H.C.
Giuseppe Ungaretti
(1888-1970)
La madre
E il cuore quando
d’un ultimo battito
Avrà fatto cadere il
muro d’ombra,
Per condurmi, Madre,
sino al Signore,
Come una volta mi
darai la mano.
In ginocchio, decisa,
Sarai una statua
davanti all’Eterno,
Come già ti vedeva
Quando eri ancora in
vita.
Alzerai tremante le
vecchie braccia.
Come quando spirasti
Dicendo: Mio Dio,
eccomi.
E solo quando m’avrà perdonato,
Ti verrà desiderio di
guardarmi.
Ricorderai d’avermi
atteso tanto,
E avrai negli occhi
un rapido sospiro.
1930
In: “Sentimento del tempo”
(1919-1935)
O beijo da mãe
(Carl Adolf Gugel:
pintor alemão)
A mãe
E quando o coração,
de uma última batida,
Houver desabado o
muro da sombra,
Para conduzir-me,
Mãe, até o Senhor,
Hás de me dar a mão,
como outrora.
De joelhos, resoluta,
Serás uma estátua
perante
O Eterno,
Como já antes te vira
Quando ainda eras
viva.
Erguerás teus trêmulos
e velhos braços,
Como quando expiraste,
A dizer: Meu Deus,
aqui estou.
E só quando Ele me
perdoar,
Vais querer olhar
para mim.
Recordarás de
haver-me esperado tanto,
E terás nos olhos um
rápido suspiro.
1930
Em: “Sentimento do
tempo” (1919-1935)
Referência:
UNGARETTI, Giuseppe.
La madre. In: __________. Vita d’un uomo: 106 poesie 1914-1960. Milano,
IT: O. Mondadori, 1992. p. 108. (‘Oscar classici moderni’; v. 51)
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