O autor sérvio almeja,
por meio destes versos, desvestir o poeta daqueles trajes prototípicos que comumente
se lhes são atribuídos – os de uma espécie de vidente, de taumaturgo ou mesmo
de profeta em delírio –, firmando-lhe os verdadeiros distintivos e negando-lhe
outros tantos modos ou assunções idiossincráticas.
Os “verdadeiros
poetas”, segundo Komnénitch, “nunca puderam estar no lugar certo”, sendo “membros
úteis da sociedade”; seja como for, “não acenam com a crença de que são
perseguidos na pátria”, opondo-se, ademais à vulgarização da cultura ou à apologia
de quaisquer formas de autocracia: consigne-se que Komnénitch – além de poeta,
tradutor e ensaísta –, participou ativamente da vida política de seu país,
tendo sido nomeado, próximo à virada do milênio, Ministro da Informação e, logo
depois, Ministro da Cultura da República da Sérvia.
J.A.R. – H.C.
Milan Komnénitch
(1940-2015)
Pravi Pesnici
Pravi pesnici ne
predstavljaju nikakav narod,
ne vucaraju se po
zvaničnim skupovima,
niti trguju verom u čoveka,
pravi pesnici su
smetnja bezumnim naporima
da se kultura
pretvori u smeće,
pravi pesnici ne potežu
svoje knjige,
supruge, ljubavnice,
odličja,
ne mašu uverenjem da
su progonjeni u domovini,
ne balave, loču, ne šedrvane
zadnjicom,
ne odgovaraju na
nepostavljena pitanja,
oni su tvrdi, divlji,
izlišni,
pravi pesnici nisu džibra
u koju možete
pišati a da se ne
promeni ukus,
stide se sebe, ne
znaju za ljubav,
nikada nisu voleli
samodršce,
pravi pesnici ne mogu
biti na pravom mestu,
oni nisu korisni
članovi društva,
ako već nisu
istrebljeni,
istrebimo ih i
odahnimo
kao posle svojski
obavljenog posla.
Seis poetas toscanos
(Giorgio Vasari:
artista italiano)
Veros Poetas
Os veros poetas não
representam povo algum,
não erram pelos encontros
oficiais,
nem comercializam a
fé ao homem,
os veros poetas são
obstáculo para os esforços insanos
para que a cultura se
transforme em lixo,
os veros poetas não
revelam os seus livros,
mulheres, amantes,
excelências,
não acenam com a
crença de que são perseguidos
na pátria,
não fazem molecagens,
não emurchecem, não jorram
com os traseiros,
não respondem a
perguntas não formuladas,
eles são duros,
selvagens, supérfluos,
os veros poetas não
são vassouras em que se pode
mijar e não se lhes
altera o sabor,
envergonham-se diante
de si mesmos, nada sabem
do amor,
jamais gostaram dos
monarcas,
os veros poetas nunca
puderam estar no lugar certo,
eles não são membros úteis
da sociedade,
e se ainda não foram
eliminados,
eliminemo-los e
respiremos,
como se faz depois de
uma tarefa sinceramente cumprida.
Referência:
KOMNÉNITCH Milan. Pravi
pesnici / Veros poetas. Tradução de Aleksandar Jovanović. In: JOVANOVIĆ, Aleksandar (Prefácio,
tradução e notas). Poesia iugoslava contemporânea: Sérvia. São Paulo, SP:
Editora Meca, 1987. Em sérvio: p. 206; em português: p. 207.
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