Desponta por demais
relevante o poder de sugestão deste poema para que que a ele se dê uma interpretação
unívoca – quero dizer, pelo menos assim me parece –, muito embora a atmosfera
onírica do título persista incólume ao longo de suas linhas, na “liberdade do
voo” que se pretende empreender por meio de um impulso às alturas, ou por outra,
de um cogitado exílio.
A impressão que se
tem é que tudo não passaria de uma dinâmica semelhante a que levam a efeito grandes
nomes da pintura surrealista, ao transformarem em imagens sobre a tela algumas cenas
de sonho que não se pretendem firmadas na realidade, mas no lado mais delirante
ou fantasioso da mente?! Devaneios, quimeras, utopias: catedrais que planam na
imaginação do poeta...
P.s.: “La Cigüeña de Papel” (“A Cegonha de Papel”) é título de um poemário, então inédito, lançado por Jaramillo, em 1996.
J.A.R. – H.C.
Alfredo Jaramillo
Andrade
(n. 1934)
Catedrales Oníricas
Al fondo del cristal
y su arista secreta,
– punto muerto
superior del canto y la palabra –,
la Cigüeña de Papel
en su doblez volcánico
saturado de nieve,
nos sorprende,
imprevistos, indefensos:
cosa leve, ...risueña,
...bio-forme;
recuperada angustia
temporal;
invertebrada y
encendida flama
de pronósticos:
– ¡Nos envanece!...
¡Los tüneles indiscretos
de la pasión
amedrentan las
catedrales hondas
del silencio!...
Al otro extremo de
esta negra antigua
oscuridad sin alas ni
memoria,
el reflejo sensual de
la semilla,
su parcela equidistante,
nos ofrece
la máxima expresión
de convergencia.
La Cigüeña de Papel,
– burbuja sostenida
en eclosión de
alturas –,
alimenta una
curiosidad de soles extenuados.
Inquieta tus avances
crónicos. Desubica
los cálices de oro.
¡Desarraiga y exilia, oniricamente
y cruel
por intimar con ella
y su espiral
de clorofila o yeso:
la libertad del vuelo!...
(Depuración del fuego
/ Primera dimensión)
Igreja Catedral
(Olga Ibadullayeva:
artista ucraniana)
Catedrais Oníricas
Do fundo do vidro e
sua aresta secreta,
– ponto morto
superior do canto e da palavra –,
a Cegonha de Papel
em sua dobra
vulcânica saturada de neve,
surpreende-nos,
imprevistos, indefesos:
coisa leve, ...risonha,
...bio-forme;
recuperada angústia
temporal;
invertebrada e
ardente flama
de prognósticos:
– Envaidece-nos!...
Os túneis indiscretos
da paixão
assombram as profundas
catedrais
do silêncio!...
Do outro extremo desta
negra e antiga
escuridão sem asas
nem memória,
o reflexo sensual da
semente,
sua parcela
equidistante, oferece-nos
a máxima expressão de
convergência.
A Cegonha de Papel,
– bolha sustentada
em eclosão de alturas
–,
alimenta uma
curiosidade de sóis extenuados.
Açula os teus avanços
crônicos. Desloca os
cálices de ouro.
Desenraíza e exila, cruel
e oniricamente,
por ter-se tornado
íntimo dela e de sua espiral
de clorofila e gesso:
a liberdade do
voo!...
(Depuração do fogo /
Primeira dimensão)
Referência:
ANDRADE, Alfredo Jaramillo. Catedrales oníricas. In: __________. Metáforas y paradigmas: poesía. Loja, EC: Casa de la Cultura Ecuatoriana Benjamin Carriôn (Nucleo de Loja), 2006. p. 25-26.
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Caro Rynaldo:
ResponderExcluirMuito lhe agradeço as palavras e a força para continuar!
Um grande abraço,
João A. Rodrigues