O espectador noturno
está à janela e observa a lua cheia no firmamento e o seu reflexo nas águas de
um lago: logo pondera como ela se parece a uma “laranja recém descascada” em
meio à paisagem, a qual, em terra, integra-se à vegetação, melhor dizendo, às árvores
com “folhas crestadas e frágeis”, prestes a cair.
Contrariamente à
“sensualidade de bem-estar” com que se sustenta a lua, o observador experimenta
o medo – qual água a subir num poço –, a lhe assaltar o espírito na “calada da
noite”, acompanhado por um “incômodo suor metálico”, gotejante feito “vil orvalho”,
levando-o a sentir-se como se ameaçado por um afogo, à deriva de um frio
perspirar. Augúrios da lua cheia?!
J.A.R. – H.C.
William Matthews
(1942-1997)
Landscape with
Onlooker
One night shy of
full, fat as a beach ball, the moon
looks not lonesome
shining through the trees, but replete
with the thoughtless
sensuality of well-being.
A chill in the air? No,
under the air, like water
under a swimmer. The
unsteadfast leaves grow crisp
and brittle, the
better to fall away. Some nights
fear, like rising
water in a well, fills these hours –
the dead of night, as
the phrase goes, when you quicken
and the dank metallic
sweat beads like a vile dew.
But tonight you stand
at your window, framed and calm,
and the air’s as
sweet as a freshly peeled orange.
There’s a moon on the
lake, and another in the sky.
Mulher à espera do sol
nascente
(Caspar David Friedrich:
pintor alemão)
Paisagem com
Espectador
Certa noite, acanhada
de cheia, gorda como bola
de praia, a lua
não parece solitária
brilhando entre as árvores,
mas repleta
da impensada
sensualidade de bem-estar.
Um frio no ar? Não,
sob o ar, como água
sob um nadador. As
folhas inconstantes ficam crestadas
e frágeis, para
melhor caírem. Certas noites
o medo, como água
subindo no poço, enche as horas –
na calada da noite,
como se diz, quando a gente se agita
e o incômodo suor
metálico goteja como vil orvalho.
Mas hoje à noite
ficas à janela, emoldurada e calma,
e o ar é tão doce
quanto uma laranja recém descascada.
Há uma lua no lago e
outra no céu.
Referência:
MATTHEWS, William. Landscape
with onlooker / Paisagem com espectador. Tradução de Maria Lúcia Milléo
Martins. In: O’SHEA, José Roberto (Org.). Antologia de poesia
norte-americana contemporânea. Tradução de Maria Lúcia Milléo Martins.
Florianópolis, SC: Ed. da UFSC, 1997. Em inglês: p. 122; em português: p. 123.
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