Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 3 de maio de 2022

Alberto da Costa e Silva - Breve Solilóquio no Jardim das Tulherias

A voz poética enceta um monólogo entre o falante de agora e o menino que foi um dia, a pedalar uma bicicleta, tal como – quem sabe? –, algum outro garoto que, pelo momento, haja avistado a passear pelo Jardim das Tulherias, em Paris (FR): as memórias se fazem presentes e protraem as suas linhas de força até as fronteiras de significado que lhes são atribuídas pelo sujeito que as evoca.

 

Na mente de quem recorda, há uma vã recusa em reconhecer que o tempo passou, que o que fomos não se conforma ao que agora somos. Seja como for, as promessas de um futuro feliz, erigidas no passado, podem muito bem se coadunar com as realizações em curso e próximas de seu termo no presente: o itinerário do menino sobre a bicicleta, desse modo, não se terá extraviado, e o seu sorriso de chegada denota a certeza de ter usufruído uma vida significativa.

 

J.A.R. – H.C.

 

Alberto da Costa e Silva

(n. 1931)

 

Breve Solilóquio no Jardim das Tulherias

 

O que quer este menino a andar de bicicleta,

senão lembrar-me do que fui?

Senão, tonto de riso,

entre pombos e pardais no chão

ensolarado, fingir-me?

 

Não aceito o ter sido. Nem me quero menor

no coração que guardou o assombro e a fábula

de tudo o que viveu como

um sonho escondido.

 

Os dias me cobraram o que era infinito.

E, se agora persigo o pedalar do menino,

é porque sei que sou o final do seu riso.

 

As Tulherias: estudo

(Claude Monet: pintor francês)

 

Referência:

COSTA E SILVA, Alberto da. Breve solilóquio no Jardim das Tulherias. Revista da Academia Brasiliense de Letras (ABrL), Brasília (DF), ano 1, fase 2, nº 3, p. 10, fev. 2021. Disponível neste endereço. Acesso em: 25 abr. 2022.

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