O poeta fala-nos, com
irreverência, do modo como os filósofos teriam sido lançados ao mar, a partir
do “Barco do Conhecimento”, tendo na proa, como elemento emblemático da “Revolução
Científica”, a máscara de ninguém menos que o inglês Francis Bacon (1561-1626) –
ele próprio também um filósofo e ensaísta dos melhores!
Se se pede “cuidado”
ao final dos versos, aparentemente, é para que a Ciência não se pretenda dona absoluta
da verdade: mesmo ela não pode abrir mão por completo da Filosofia, afinal, a Epistemologia
é que lhe serve de suporte para apreciar tudo o que diga respeito ao
conhecimento humano – fontes, possibilidades, valoração.
Ademais, como derivada
imbricada de tais domínios, tem-se a Filosofia da Ciência, dedicada a questões atinentes
aos processos e métodos científicos, na qual despontam outros tantos ilustres
nomes, como Popper, Kuhn, Lakatos e Feyerabend.
J.A.R. – H.C.
Carlos Saldanha
Zuca Sardan
(n. 1933)
Os Filósofos
Ante o empolgamento
que foi galvanizando
sucessivamente
os frades copistas,
os geômetras,
os astrônomos,
os pálidos almirantes
com suas lunetas,
os monarcas augustos
com suas esferas armilares,
e os tabeliões
Ante as maravilhas da
Ciência
e do Progresso
Tecnológico,
Aconteceu que
os filósofos, pouco a
pouco,
com suas ideias
vagas,
suas caraminholas na
cabeça,
um após outro,
entre chacotas mal
disfarçadas,
foram sendo jogados
ao mar,
tichipum, tichipum,
por cima do parapeito
do convés
do Barco do
Conhecimento
que navega por mares
ignotos,
levando à proa
a orgulhosa máscara
de Francis Bacon...
Cuidado, Capitão,
cuidado...
A morte de Sócrates
(Jacques-Louis David:
pintor francês)
Referência:
SALDANHA, Carlos. Os
filósofos. In: HOLLANDA, Heloisa Buarque de (Org.). 26 poetas hoje:
antologia. 6. ed. Rio de Janeiro, RJ: Aeroplano, 2007. p. 29.
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