A rosa do poema fala
com uma voz humana, perquirindo os seus problemas existenciais a uma figura à
janela (um jardineiro?), qualificável apenas como uma evocada “luz”, à maneira
como divagamos perante o Eterno: a flor espera por explicações em relação à sua
vida e, não as obtendo, julga a lacuna como um sinal de que ambos – a flor e a
figura (já agora adjetivada em seu oposto, ou melhor, como negritude) – não têm
mesmo chances de sobreviver ao “clima” terrenal.
A rosa afirma ter
apenas “o corpo como voz”, não podendo “desaparecer no silêncio”, primeiramente
para denotar a rigidez da sua condição de “aprisionada” à terra, e, depois,
para consignar que essa restrição em sua liberdade de movimentos, com “n-1”
graus de liberdade, é como um vaticínio hamletiano à sua própria finitude.
J.A.R. – H.C.
Louise Glück
(n. 1943)
The White Rose
This is the earth?
Then
I don’t belong here.
Who are you in the
lighted window,
shadowed now by the
flickering leaves
of the wayfarer tree?
Can you survive where
I won’t last
beyond the first
summer?
All night the slender
branches of the tree
shift and rustle at
the bright window
Explain my life to
me, you who make no sign,
though I call out to
you in the night:
I arn not like you, I
have only
my body for a voice;
I can’t
disappear into
silence –
And in the cold
morning
over the dark surface
of the earth
echoes of my voice
drift,
whiteness steadily
absorbed into darkness
as though you were
making a sign after all
to convince me you
too couldn’t survive here
or to show me you are
not the light I called to
but the blackness
behind it.
Rosas Brancas
(Henri Fantin-Latour:
pintor francês)
A Rosa Branca
Isto é a terra? Então
não sou daqui.
Quem és tu na janela
acesa,
agora à sombra das
folhas trêmulas
do viburno?
Podes sobreviver onde
não vou durar
além do próximo
verão?
A noite inteira os
galhos esguios da árvore
movem-se e sussurram
à janela iluminada.
Explica a minha vida,
tu que não fazes sinal algum,
embora eu chame por
ti na noite:
não sou como tu,
tenho apenas
meu corpo como voz;
não posso
desaparecer no
silêncio –
E na minha fria
sobre a superfície
escura da terra
vagueiam ecos da
minha voz,
brancura que firme se
consome em escuridão
corno se finalmente fizesses
um sinal
para me convencer de
que também não pudeste
sobreviver aqui
ou para me mostrar
que não és a luz que chamei
mas o breu atrás
dela.
Referência:
GLÜCK, Louise. The
white rose / A rosa branca. Tradução de Maria Lúcia Milléo Martins. In: O’SHEA,
José Roberto (Org.). Antologia de poesia norte-americana contemporânea.
Tradução de Maria Lúcia Milléo Martins. Florianópolis, SC: Ed. da UFSC, 1997. Em
inglês: p. 40; em português: p. 41.
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