Estamos em maio –
outono nestas plagas, portanto –, mas a voz lírica já aspira por setembro –
quando se inicia a primavera –, tempo de renovação e de floração, de auroras
esplêndidas, de chuvas fertilizadoras, de uma vida que se manifesta em sua
dinâmica evolutiva, prefigurando certa beatitude intemporal.
Mas o próprio falante
reconhece que tamanho salto temporal tem lá sua impropriedade ou dose de
impaciência, porquanto todos os estados sazonais da natura são plenos de
beleza, cada um à sua maneira, beleza essa que se pormenoriza na “paisagem” de
cada dia, a veicular suficiente “sabedoria” de grão em grão.
J.A.R. – H.C.
Valdir de Aquino
Ximenes
(n. 1962)
Setembro
para Cacau
Por que hoje ainda é
maio
parece que dele não
saio,
tamanho o afã por
setembro
qual mago do tempo
nem lembro
de permeio junho,
julho, agosto,
para vivê-lo a
contragosto.
Por hoje não ser
setembro, triste
estou, pois o tempo
insiste
em não passar, e eu
tenho então
de assistir à
tormentosa passagem
das horas, alheio à
rica paisagem
dos dias, à sábia
miudeza de cada grão.
Primavera: paisagem
em Florença
(Béla Iványi-Grünwald:
pintor húngaro)
Referência:
XIMENES, Valdir de
Aquino. Setembro. In: SOUZA, Aglaia et al. Caliandra: poesia em
Brasília. Brasília, DF: André Quicé Editor, 1995. p. 215.
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