Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 17 de maio de 2022

Kepa Murua - Quatro Ventos

A verdade é o referente anafórico em que se detém o escritor, poeta e editor espanhol: diante da desesperança, de um futuro turvo, de nosso recolhimento familiar silencioso perante o que sentimos, do afã de nos enredar em pueris fabulações quando nos encontramos num estado de gozo, o que é veraz acaba por soçobrar aos quatro ventos.

 

A verdade “erra desconhecida no meio dos homens”, diria Pascal: se “infortúnio”, “memória desfocada”, “religião oculta” ou “ilusão sincera”, acabamos sempre por submergir no autoengano, ludibriando-nos diante de fatos incômodos, alheando-nos à realidade por meio de uma válvula de escape, adotando, por fim, modos esquivos diante daqueles nos são mais próximos.

 

J.A.R. – H.C.

 

Kepa Murua

(n. 1962)

 

Cuatro Vientos

 

La verdad, esa desdicha que nos despista

cuando nos encontramos solos y comienza la vida

a ladrar a los cuatro vientos

su desesperanza.

 

La verdad, esta desdibujada memoria

que nos atormenta si escribimos lo que hacemos

y como tantos otros poetas sin futuro

no sentimos más que el decir si no lo vemos.

 

La verdad, esa religión oculta entre cuatro paredes

cuando estamos a solas con los nuestros

y no sabemos decir lo que sentimos.

 

La verdad, esa ilusión sincera de cuando niños

y que nos hace mentir a los cuatro vientos

si en las manos, nuestro gozo reconocemos.

 

Cidade dos quatro ventos

(Margarita Ado: artista lituana)

 

Quatro Ventos

 

A verdade, esse infortúnio que nos despista

quando nos encontramos sozinhos e a vida começa

a ladrar sua desesperança

aos quatro ventos.

 

A verdade, essa memória desfocada

que nos atormenta se escrevemos o que fazemos

e, como tantos outros poetas sem futuro,

nada mais sentimos do que dizer se não o vemos.

 

A verdade, essa religião oculta entre quatro paredes

quando estamos a sós com os nossos

e não sabemos como dizer o que sentimos.

 

A verdade, essa ilusão sincera de quando infantes

e que nos faz mentir aos quatro ventos

se, nas mãos, nossa alegria reconhecemos.

 

Referência:

 

MURUA, Kepa. Cuatro ventos. In: ZELADA, Leo (Comp.). Poesía española contemporánea: poéticas desde la postmodernidad. Lima, PE: Lord Byron Ediciones, 2005. p. 39.

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