A verdade é o
referente anafórico em que se detém o escritor, poeta e editor espanhol: diante
da desesperança, de um futuro turvo, de nosso recolhimento familiar silencioso
perante o que sentimos, do afã de nos enredar em pueris fabulações quando nos
encontramos num estado de gozo, o que é veraz acaba por soçobrar aos quatro
ventos.
A verdade “erra
desconhecida no meio dos homens”, diria Pascal: se “infortúnio”, “memória
desfocada”, “religião oculta” ou “ilusão sincera”, acabamos sempre por
submergir no autoengano, ludibriando-nos diante de fatos incômodos, alheando-nos
à realidade por meio de uma válvula de escape, adotando, por fim, modos esquivos
diante daqueles nos são mais próximos.
J.A.R. – H.C.
Kepa Murua
(n. 1962)
Cuatro Vientos
La verdad, esa
desdicha que nos despista
cuando nos
encontramos solos y comienza la vida
a ladrar a los cuatro
vientos
su desesperanza.
La verdad, esta
desdibujada memoria
que nos atormenta si
escribimos lo que hacemos
y como tantos otros
poetas sin futuro
no sentimos más que
el decir si no lo vemos.
La verdad, esa
religión oculta entre cuatro paredes
cuando estamos a
solas con los nuestros
y no sabemos decir lo
que sentimos.
La verdad, esa
ilusión sincera de cuando niños
y que nos hace mentir
a los cuatro vientos
si en las manos,
nuestro gozo reconocemos.
Cidade dos quatro
ventos
(Margarita Ado: artista
lituana)
Quatro Ventos
A verdade, esse
infortúnio que nos despista
quando nos
encontramos sozinhos e a vida começa
a ladrar sua desesperança
aos quatro ventos.
A verdade, essa memória
desfocada
que nos atormenta se
escrevemos o que fazemos
e, como tantos outros
poetas sem futuro,
nada mais sentimos do
que dizer se não o vemos.
A verdade, essa
religião oculta entre quatro paredes
quando estamos a sós
com os nossos
e não sabemos como
dizer o que sentimos.
A verdade, essa
ilusão sincera de quando infantes
e que nos faz mentir
aos quatro ventos
se, nas mãos, nossa alegria
reconhecemos.
Referência:
MURUA, Kepa. Cuatro
ventos. In: ZELADA, Leo (Comp.). Poesía española contemporánea: poéticas
desde la postmodernidad. Lima, PE: Lord Byron Ediciones, 2005. p. 39.
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