Morrer para renascer
outra vez como criança, em nova infância; sazonar, experimentar o fluxo e o
refluxo de todas as coisas, nesse reino do espírito, para se poder viver a
eternidade em tudo que é lábil: tais são as metáforas empregadas pelo poeta
para dar vazão a esse sentimento pungente de finitude.
Aniquilamento e iniciação,
mistério e revelação, libertação e êxtase são díades que se firmam no sentido mais
profundo da morte: resistir à mudança é jamais chegar à maturidade; é
concentração, condensação, cristalização na inércia, ignorando a infinita
variedade das formas, em contínuo movimento de friabilidade e reintegração.
J.A.R. – H.C.
Alberto da Costa e
Silva
(n. 1931)
Elegia
Sofrer esta infância,
esta morte, este início.
As cousas não param.
Elas fluem, inquietas,
como velhos rios soluçantes.
As flores
que apenas sonhamos
em frutos se tornaram.
Sazonar, eis o
destino. Porém, não esquecer
a promessa de flores
nas sementes dos frutos,
o rosto de teu pai na
face do teu filho,
as ondas que voltam
sobre as mesmas praias,
noivas desconhecidas
a cada novo encontro.
As cousas fluem, não
param. As folhas nascem,
as folhas tombam
longe, em longínquos jardins.
Em silêncio, vives a
infância de teus olhos
e, morto, és tão puro
que te tornas menino.
Elegia
(William-Adolphe
Bouguereau: pintor francês)
Referência:
COSTA E SILVA,
Alberto da. Elegia. In: ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Antologias ABL:
poesia / ABL’s Anthologies: poems. Idealização e apresentação de Ana Maria
Machado. Organização de Domício Proença Filho e Marco Lucchesi. Edição
bilíngue. Rio de Janeiro, RJ: ABL, 2013. p. 4.
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