Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 30 de maio de 2022

Alberto da Costa e Silva - Elegia

Morrer para renascer outra vez como criança, em nova infância; sazonar, experimentar o fluxo e o refluxo de todas as coisas, nesse reino do espírito, para se poder viver a eternidade em tudo que é lábil: tais são as metáforas empregadas pelo poeta para dar vazão a esse sentimento pungente de finitude.

 

Aniquilamento e iniciação, mistério e revelação, libertação e êxtase são díades que se firmam no sentido mais profundo da morte: resistir à mudança é jamais chegar à maturidade; é concentração, condensação, cristalização na inércia, ignorando a infinita variedade das formas, em contínuo movimento de friabilidade e reintegração.

 

J.A.R. – H.C.

 

Alberto da Costa e Silva

(n. 1931)

 

Elegia

 

Sofrer esta infância, esta morte, este início.

As cousas não param. Elas fluem, inquietas,

como velhos rios soluçantes. As flores

que apenas sonhamos em frutos se tornaram.

Sazonar, eis o destino. Porém, não esquecer

a promessa de flores nas sementes dos frutos,

o rosto de teu pai na face do teu filho,

as ondas que voltam sobre as mesmas praias,

noivas desconhecidas a cada novo encontro.

As cousas fluem, não param. As folhas nascem,

as folhas tombam longe, em longínquos jardins.

Em silêncio, vives a infância de teus olhos

e, morto, és tão puro que te tornas menino.

 

Elegia

(William-Adolphe Bouguereau: pintor francês)

 

Referência:

 

COSTA E SILVA, Alberto da. Elegia. In: ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Antologias ABL: poesia / ABL’s Anthologies: poems. Idealização e apresentação de Ana Maria Machado. Organização de Domício Proença Filho e Marco Lucchesi. Edição bilíngue. Rio de Janeiro, RJ: ABL, 2013. p. 4.

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