Esta espécie de “glosa”
de Rumi ao Alcorão LXXIX (Surata nº 79), versículo nº 24, tem por título
completo o que a seguir se transcreve, no qual se detém o Faraó a invocar o
Eterno para que restitua as coisas a bom termo, abstendo-se de destruir a sua reputação
de “Senhor Supremo”:
Onde se explica que
Moisés e o Faraó estavam ambos sujeitos à vontade divina, como veneno e antídoto,
trevas e luz; e como o Faraó falava em solidão com Deus, implorando-Lhe que não
destruísse a sua dignidade.
Mais algumas seções
do “Mathnawi” à frente, Rumi leva-nos a concluir que a rebeldia do Faraó teria
sido provocada por Moisés, o que justificaria o seu derradeiro apelo: se a rosa brota em meio aos espinhos, por que os
dois haveriam de estar em permanente confronto? Se o óleo e a água são criações
divinas, por que seriam os dois imiscíveis?
J.A.R. – H.C.
Jalal ud-Din Rumi
(1207-1273)
Moses and Pharaoh,
alike doers of God’s will,
as Light and
Darkness, Poison and Antidote
Verily, both Moses
and Pharaoh walked in the right way,
Though seemingly the
one did so, and the other not.
By day Moses wept
before God,
At midnight Pharaoh
lifted up his cry,
Saying, “What a yoke
is this upon my neck, O God!
Were it not for this
yoke who would boast, ‘I am?’
Because Thou hast
made Moses’ face bright as the moon,
And hast made the
moon of my face black in the face.
Can my star ever
shine brighter than the moon?
If it be eclipsed,
what remedy have I?
Though princes and
kings beat drums,
And men beat cymbals
because of my eclipse, (1)
They beat their brass
dishes and raise a clamour,
And make my moon
ashamed thereby,
I, who am Pharaoh,
woe is me! The people’s clamour
Confounds my boast, ‘I
am Lord Supreme!’ (2)
Moses and I are Thy
nurslings both alike,
Yet Thy axe cuts down
tho branches in Thy woods.
Some of these
branches Thou plantest in the ground,
Others Thou castest
away as useless.
Can branch strive
against axe? Not so.
Can branch elude the
power of the axe? Nay,
O Lord of the power
that dwells in Thy axe,
In mercy make these
crooked things straight!”
Moisés transformando
seu báculo em uma cobra
na frente do Faraó e
seus mágicos
(Felice Gianni:
pintor italiano)
Moisés e o Faraó,
igualmente cumpridores da vontade
de Deus, como Luz e
Trevas, Veneno e Antídoto
Em verdade, tanto
Moisés quanto o Faraó andaram pelo
bom caminho,
Embora,
aparentemente, um o fizesse e o outro não.
De dia, Moisés
suplicava a Deus,
À meia-noite, o Faraó
levantava o seu clamor,
Dizendo, “Que jugo é esse sobre minha cerviz, Ó Deus!
Se
não fosse por tal jugo, quem se enalteceria pelo ‘Eu sou?’
Ao tempo que tornaste
o rosto de Moisés brilhante como a lua,
Fizeste com que a luz
de meu rosto se turvasse.
Pode minha estrela
brilhar mais do que a lua?
Se for eclipsada, de
que auxílio disponho eu?
Embora príncipes e
reis batam tambores em minha honra
E os homens toquem
címbalos, o fragor que erguem
Parece-se ao vibrar
de concas de bronze diante do meu eclipse,
Deslustrando a minha
lua com seus repiques;
Eu, que sou Faraó, ai
de mim, pois esse fragor do povo
Desvanece-me a
vanglória de “Senhor Supremo”.
Moisés e eu somos Teus
filhos por igual,
Contudo, com um
machado desbastas os ramos de Teu bosque.
Alguns desses ramos plantaste
no solo,
Outros, deitaste fora
como inúteis.
Pode o ramo lutar
contra o machado? Nem se cogita!
Pode o ramo
esquivar-se ao poder do machado? Tampouco!
Ó Senhor do poder que
Te hospedas no machado,
Por misericórdia, restitui
à ordem essas ações tortuosas!”
Notas do Tradutor (E.
H. Whinfield):
(1). Compare-se ao
antigo costume de fazer soar os sinos para acalmar os trovões.
(2). Alcorão LXXIX
(Surata nº 79), versículo nº 24: A jactância do faraó.
Referência:
RUMI, Maulana
Jalalu-’d-din Muhammad i. Moses and pharaoh, alike doers of God’s will, as light
and darkness, poison and antidote (book one). Translated from Persian to
English by E. H. Whinfield. In: __________. Masnavi i Ma’navi: teachings
of Rumi. Translated and abridged by E. H. Whinfield. Ames, IA: Omphaloskepsis,
2001. p. 56-57.
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