Inserto no poemário “Небесен срив” (algo como “Colapso Celestial”), de 1996, este poema de Lévtchev
reflete certo lastro que se prende à História recente – pois que há menção a
submarinos atômicos –, mas que se espraia, por correlação, a uma realidade também
remota – torres, faróis, navios baleeiros (levando-nos, de algum modo, a
recordar das peripécias em “Moby Dick”, de Melville!).
Mas quase ao final dos
versos, surge uma voz que se equivale a de um Ulisses, na “Odisseia”, dando conta
de seu regresso para Penélope, enviando-lhe um sinal de coração a coração, a fazer ressurgir no relacionamento entre ambos um “cosmo estrelado”.
O dístico final é uma
referência clara à épica greco-latina – retomem-se as associações à “Ilíada” e à
“Odisseia”, de Homero, bem assim à “Eneida”, de Virgílio: a forma dactílica nos
versos alude à configuração de um dedo, a exemplo da primeira falange longa e
as duas sequentes mais curtas. Veja-se: “O farol marinho pulsa em dactílicos / Duas
luzes curtas e uma longa treva”.
J.A.R. – H.C.
Liubomir Lévtchev
(1935-2019)
Жени, които чакат кораби
Малките бели кули,
накацали по покривите, някога са правени
за чакане на някогашни кораби.
Приличат на фенери.
Разбити клетки, от които светлината е избягала.
Небесни стъкленици за сълзи...
Но чувствам, че и тези образи са празни,
защото ние сме престанали
да забеляваме
малките бели кули,
предназначени за самотни,
за вечно чакащи
жени на капитани.
Ний сме обхванати от други океани.
Подводниците атомни лежат отсреща
на дъното на Гротън.
Но сигурно и те са вече
напразни образи на изтощено време...
Какво се пак остана,
да ни изпълва и да свети в нас,
докато порим дългите вълни
и след това?
Останли сте само вие –
жени безмълвни, тъжни и великолепни –
жени,
които чакат китобойни кораби...
Видения на старото пристанище.
Ний ще потънем.
Вие няма да повярвате.
О, скъпа,
отвори вратата на съня –
аз ида.
Аз се завръщтам доброволно
В клетката за огън.
И пак изгрява космос звездно-личен
Сърцето ми ти праща своя знак.
Морският фар пулсира дактилично –
В две кратки светлини и дълъг мрак.
Barcos à vela e
mulheres à espera
(Eugène Benoît Baudin:
pintor francês)
Mulheres que aguardam
navios
As pequenas torres
alvas,
postadas sobre os
telhados, feitas certa vez
para esperar navios
de outrora.
Parecem lanternas,
Gaiolas partidas de
onde a luz escapou.
Recipientes
celestiais para lágrimas...
Sinto que essas figuras
também estão vazias
Porque deixamos
de notar
as pequenas torres
alvas,
destinadas às
solitárias,
às eternamente à
espera,
às mulheres dos
capitães.
Estamos cercados por
outros oceanos.
Os submarinos
atômicos estendidos atravessados
no fundo de Groton.
Mas por certo eles
também já se tornaram
figuras esvaziadas de
um tempo exaurido...
Ainda assim, tudo
permanece
para preencher-nos,
brilhar em nós,
enquanto rechaçamos
longas ondas,
mas e depois?
Sobrevivestes apenas
vocês,
mulheres silentes,
tristes e formosas,
mulheres
que aguardam
baleeiras...
Aparições do antigo
porto,
Afundaremos.
Vocês não são capazes
de acreditar.
Querida,
abre as portas do
sonho –
vou-me.
Retorno voluntário
à gaiola para as
labaredas.
Desponta, no entanto,
um cosmos estrelado.
Meu coração envia o
seu sinal a você.
O farol marinho pulsa
em dactílicos –
Duas luzes curtas e
uma longa treva.
Referência:
LÉVTCHEV, Liubomir. Жени, които чакат кораби / Mulheres que aguardam navios. Tradução de Aleksandar Jovanović. Revista
Brasileira. Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro (RJ), fase VIII, ano
II, nº 76, jul-ago-set 2013. Em búlgaro: p. 244 e 246; em português: p. 245 e
247. Disponível neste endereço. Acesso em:
30 abr. 2022.
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