Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 16 de maio de 2022

Liubomir Lévtchev - Mulheres que aguardam navios

Inserto no poemário “Небесен срив” (algo como “Colapso Celestial”), de 1996, este poema de Lévtchev reflete certo lastro que se prende à História recente – pois que há menção a submarinos atômicos –, mas que se espraia, por correlação, a uma realidade também remota – torres, faróis, navios baleeiros (levando-nos, de algum modo, a recordar das peripécias em “Moby Dick”, de Melville!).

 

Mas quase ao final dos versos, surge uma voz que se equivale a de um Ulisses, na “Odisseia”, dando conta de seu regresso para Penélope, enviando-lhe um sinal de coração a coração, a fazer ressurgir no relacionamento entre ambos um “cosmo estrelado”.

 

O dístico final é uma referência clara à épica greco-latina – retomem-se as associações à “Ilíada” e à “Odisseia”, de Homero, bem assim à “Eneida”, de Virgílio: a forma dactílica nos versos alude à configuração de um dedo, a exemplo da primeira falange longa e as duas sequentes mais curtas. Veja-se: “O farol marinho pulsa em dactílicos / Duas luzes curtas e uma longa treva”.

 

J.A.R. – H.C.

 

Liubomir Lévtchev

(1935-2019)

 

Жени, които чакат кораби

 

Малките бели кули,

накацали по покривите, някога са правени

за чакане на някогашни кораби.

Приличат на фенери.

Разбити клетки, от които светлината е избягала.

Небесни стъкленици за сълзи...

 

Но чувствам, че и тези образи са празни,

защото ние сме престанали

да забеляваме

малките бели кули,

предназначени за самотни,

за вечно чакащи

жени на капитани.

 

Ний сме обхванати от други океани.

Подводниците атомни лежат отсреща

на дъното на Гротън.

Но сигурно и те са вече

напразни образи на изтощено време...

 

Какво се пак остана,

да ни изпълва и да свети в нас,

докато порим дългите вълни

и след това?

 

Останли сте само вие

жени безмълвни, тъжни и великолепни

жени,

които чакат китобойни кораби...

 

Видения на старото пристанище.

Ний ще потънем.

Вие няма да повярвате.

 

О, скъпа,

отвори вратата на съня

аз ида.

Аз се завръщтам доброволно

В клетката за огън.

 

И пак изгрява космос звездно-личен

Сърцето ми ти праща своя знак.

 

Морският фар пулсира дактилично

В две кратки светлини и дълъг мрак.

 

Barcos à vela e mulheres à espera

(Eugène Benoît Baudin: pintor francês)

 

Mulheres que aguardam navios

 

As pequenas torres alvas,

postadas sobre os telhados, feitas certa vez

para esperar navios de outrora.

Parecem lanternas,

Gaiolas partidas de onde a luz escapou.

Recipientes celestiais para lágrimas...

 

Sinto que essas figuras também estão vazias

Porque deixamos

de notar

as pequenas torres alvas,

destinadas às solitárias,

às eternamente à espera,

às mulheres dos capitães.

 

Estamos cercados por outros oceanos.

Os submarinos atômicos estendidos atravessados

no fundo de Groton.

Mas por certo eles também já se tornaram

figuras esvaziadas de um tempo exaurido...

 

Ainda assim, tudo permanece

para preencher-nos, brilhar em nós,

enquanto rechaçamos longas ondas,

mas e depois?

 

Sobrevivestes apenas vocês,

mulheres silentes, tristes e formosas,

mulheres

que aguardam baleeiras...

 

Aparições do antigo porto,

Afundaremos.

Vocês não são capazes de acreditar.

 

Querida,

abre as portas do sonho –

vou-me.

Retorno voluntário

à gaiola para as labaredas.

 

Desponta, no entanto, um cosmos estrelado.

Meu coração envia o seu sinal a você.

 

O farol marinho pulsa em dactílicos –

Duas luzes curtas e uma longa treva.

 

Referência:

 

LÉVTCHEV, Liubomir. Жени, които чакат кораби / Mulheres que aguardam navios. Tradução de Aleksandar Jovanović. Revista Brasileira. Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro (RJ), fase VIII, ano II, nº 76, jul-ago-set 2013. Em búlgaro: p. 244 e 246; em português: p. 245 e 247. Disponível neste endereço. Acesso em: 30 abr. 2022.

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