Pelo título homônimo,
com sentido algo assemelhado, este poema fez-me recordar o soneto de Borges aqui
postado: Goulart tem foco na realidade dos objetos frente à passagem do
tempo, o quanto neles há de silenciosa presença humana, mesmo depois que os
seus detentores hajam partido para outras margens.
São os objetos que
guardam a memória dos entes queridos que se foram e, em alguns casos, a própria
história familiar. Mas há aqueles que deles se desfazem exatamente por tal razão,
sobretudo quando não benquisto o falecido ou quando se pretende dar voltas a um
passado que preferem esquecer.
J.A.R. – H.C.
Helvécio Goulart
(n. 1935)
As Coisas
Observa os objetos:
de todos eles
emanam respostas ao
efêmero.
Falam a estante, os
livros,
o tapete vermelho, as
cortinas translúcidas,
os vasos de cristal,
o escuro piano,
os enfeites de metal,
as paredes de pedra.
Expressam-se todos em
silêncio
a lembrança do tempo
que não cessa de
rodar
suas pernas de
mármore
e de ver a morte
através de cada coisa
com grandes olhos de veneno
e de fogo,
invisíveis,
abertos para sempre.
Natureza-morta com
livro danificado,
conca, cifras
musicais e frasco
(Ran Mohan: artista
indiano)
Referência:
GOULART, Helvécio. As
coisas. In: __________. Antologia poética. Goiânia, GO: Editora da UFG,
1995. p. 31. (Coleção ‘Vertentes’)
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