Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 9 de maio de 2022

Sosígenes Costa - Maio

Maio é o mês em que a natureza se extasia aos acordes da cítara de Orfeu, mais parecendo, pela pena do poeta, jornalista e professor baiano, um intercurso de primavera boreal do que, em terras meridionais, se poderia esperar diante de paisagens conformes ao outono da época.

 

Nas cinco quintilhas, tem-se o fluir dos versos em um timbre clássico, com referências à mitologia, sobretudo grega, ou mesmo à própria literatura – como no caso da alusão à “Marília de Dirceu”.

 

No mais, diriam os arautos da modernidade que o emprego da palavra “judeu”, como qualificação ao substantivo “temporal”, à luz dos dias que correm, revela-se “politicamente incorreto”, porque eivado de um sentido pejorativo, vale dizer, concernente à malvadez, à má índole.

 

J.A.R. – H.C.

 

Sosígenes Costa

(1901-1968)

 

Maio

 

Maio nasceu nas grutas das colinas.

Nas colinas azuis Maio nasceu.

As suas mãos são pombas cristalinas

e paira-lhe na boca, entre cravinas,

o sorriso melódico de Orfeu.

 

Maio nasceu nas grutas das colinas.

Nas colinas azuis Maio nasceu.

Ao pé de Maio as musas bailarinas

estão bailando esgalgas e mais finas

que uma jarra, uma lira, um caduceu.

 

Maio nasceu nas grutas das colinas.

Não vá feri-lo o temporal judeu!

Seus cabelos são como os das ondinas,

verdes madeixas muito esmeraldinas,

mais verdes do que os olhos de Nereu.

 

Porque Maio nas grutas das colinas

há cinco dias, cândido, nasceu,

a terra veste galas e boninas

e está, por entre as rosas solferinas,

mais bela que a Marília de Dirceu.

 

Maio nasceu nas grutas das colinas,

com seu lindo perfil de camafeu.

Maio das rezas, das canções divinas,

irmão das doces musas bailarinas,

filho das rosas, adorado meu.

 

(1928)

 

Em: “Versos de uma Era Extinta”

 

Outono

(Maurice B. Prendergast: artista américo-canadense)

 

Referência:

 

COSTA, Sosígenes. Maio. In: __________. Obra poética. 1. ed. Rio de Janeiro, RJ: Leitura, 1959. p. 120-121.

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