Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 8 de maio de 2022

Dorothy Wellesley - Mãe

A poetisa enxerga na condição de ser mãe algo doloroso, contíguo a um sofrimento que faz verter sangue, a título de uma maldição que teria sido imposta à mulher desde tempos imemoriais, a bem dizer, tal como assente no comando divino no Gênesis (Gên. 3:16): “Depois Deus disse à mulher: ‘Você vai ter muitas dores e sofrimentos, quando estiver para ser mãe e quanto tiver filhos. Todavia, apesar disso, você receberá bem o seu marido, e ele terá domínio sobre você’”.

 

A elocução do poema reflete a relação conflituosa entre os papéis de ser mulher e de ser mãe, de submeter-se às experiências da sexualidade e de ser capaz de gerar uma vida dentro de si, trazendo-a à luz: deixe-se registrado, de qualquer forma, que muitas mulheres abrem mão deliberada e conscientemente da maternidade, em favor de seus propósitos profissionais ou aspirações que lhes parecem mais relevantes.

 

J.A.R. – H.C.

 

Dorothy Wellesley

(1889-1956)

 

Mother

 

Woman, thou shalt say to son:

‘I, the blood, got thee upon

Nothing but a phallic stone.

This, no more – a phallic stone.

 

Now I wait your probable death,

I, who was a fact of earth,

Never held a fainting faith

In Buddha or in Christ’s belief.

 

Life is naught but bitter moan

Got upon an ancient stone.’

 

Some such curse the woman hath.

 

June 1939

 

Uma mãe de Alvito

(August Riedel: pintor alemão)

 

Mãe

 

Mulher, deves dizer ao teu filho:

‘Eu, o sangue, te concebi sobre

nada mais do que uma pedra fálica.

Nada, além disto – uma pedra fálica.

 

Agora espero tua provável morte,

Eu, que fui um fato da terra,

Nunca tive uma fé mesmo que tênue

Em Buda ou crença em Cristo.

 

A vida não é mais que um amargo gemido

desatado sobre uma pedra antiga’.

 

Alguma maldição assim tem a mulher.

 

Junho 1939

 

Referência:

 

WELLESLEY, Dorothy. Mother. In: DOWSON, Jane (Ed.). Women’s poetry of the 1930s: a critical anthology. 1st publ. London, EN: Routledge, 1996. p. 161.

Nenhum comentário:

Postar um comentário