Montparnasse é
reconhecido mundialmente por ser um bairro de artistas na capital francesa: por
lá esteve Hemingway em meados do século passado, quando pôde observar o comportamento
de seus residentes no que pertine ao tema do suicídio – o de fingir que inexiste
naquele sítio tão afeito a receber com braços abertos os aspirantes ao Parnaso.
Mas o poema soa quase
como um vaticínio sardônico, quando se sabe que o próprio Hemingway veio a suicidar-se
em Ketchum, em Idaho (EUA), 2 de julho de 1961: talvez o autor julgasse que o
seu nome seria de pronto esquecido, mas as musas lhe deram uma sobrevida, pois
suas obras, ainda hoje, encontram boa acolhida entre os principais selos editoriais.
J.A.R. – H.C.
Ernest Hemingway
(1899-1961)
Montparnasse
There are never any
suicides in the quarter among people
one knows
No successful
suicides.
A Chinese boy kills himself
and is dead.
(they continue to
place his mail in the letter rack
at the Dome)
A Norwegian boy kills
himself and is dead.
(no one knows where
the other Norwegian boy has gone)
They find a model
dead
alone in bed and very
dead.
(it made almost
unbearable trouble for the concierge)
Sweet oil, the white
of eggs, mustard and water, soap suds
and stomach pumps
rescue the people one knows.
Every afternoon the
people one knows can be found
at the café.
Visão da Basílica de
Sacré Cœur
(Guido Borelli:
pintor italiano)
Montparnasse
Nunca há suicidas no bairro,
entre as pessoas conhecidas
por alguém.
Nada de suicidas bem
sucedidos.
Um rapaz chinês suicida-se
e está morto
(continuam a
depositar sua correspondência
no escaninho).
Um rapaz norueguês suicida-se
e está morto
(ninguém sabe para onde
partiu o outro rapaz norueguês).
Encontram uma modelo
morta,
sozinha na cama e
muito morta
(criando problemas
quase insuportáveis ao porteiro).
Óleo doce, clara de
ovos, mostarda e água,
espuma de sabão
e lavagens estomacais
resgatam as pessoas por
alguém conhecidas.
Todas as tardes, as
pessoas que alguém conhece podem ser
encontradas no café.
Referência:
HEMINGWAY, Ernest. Montparnasse.
In: __________. Three stories and ten poems. Dijon, FR: Maurice
Darantière, 1923. p. 56.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário