Poetisa, escritora e
musicista canadense, Coleman recorre, neste soneto, a imagens como a de a de um
dia que se desvanece no ocaso ou a de um mar que se atravessou e de onde já se vislumbra
a margem de destino, comumente empregadas para metaforizar uma existência que
se aproxima do fim.
Há receios diante desse
Vale de Sombras e a falante passa a lidar, em seu espírito, com sentimentos ambivalentes
de ternura e de dor. Mas é nesse ponto de maior negror, em que as sombras não
se afastam, tampouco se aproximam, que a alma se sente em estado de potencial
ventura para irromper num voo, em meio à luz superior de outras matinadas.
J.A.R. – H.C.
Helena Coleman
(1860-1953)
As Day Begins to Wane
Encompassed by a
thousand nameless fears,
I see life’s little
day begin to wane,
And hear the
well-loved voices call in vain
Across the narrowing
margin of my years;
And as the Valley of
the Shadow nears,
Such yearning tides
of tenderness and pain
Sweep over me that I
can scarce restrain
The gathering flood
of ineffectual tears.
Yet there are moments
when the shadows bring
No sense of parting
or approaching right,
But, rather, all my
soul seems broadening
Before the dawn of
unimagined light –
As if within the
heart a folded wing
Were making ready for
a wider flight.
O Ocaso
(Thomas Moran: pintor
anglo-americano)
À Medida Que o Dia
Começa a Declinar
Rodeada por mil medos
sem nome,
Vejo que o pequeno
dia da vida começa a se desvanecer,
E escuto as bem-amadas
vozes me chamando em vão
Através da margem
cada vez mais estreita de meus anos;
E à medida que se
aproxima o Vale das Sombras,
Tais marés anelantes
de ternura e dor
Me invadem de tal
forma que mal posso conter
A torrente de baldadas
lágrimas que se acumulam.
No entanto, há
momentos em que as sombras não trazem
Qualquer sensação precisa
de afastamento ou proximidade,
Mas, pelo contrário,
toda a minh’alma parece se expandir
Antes do alvorecer de
uma luz inimaginável –
Como se, dentro do
coração, uma asa arqueada
Estivesse a se
preparar para um voo mais amplo.
Referência:
COLEMAN, Helena
(1860-1953). As day begins to wane. In: Garvin, John William (Ed.). Canadian
poets. Toronto, CA: McClelland, Goodchild & Stewart Publishers, 1916.
p. 212.
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