Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 7 de abril de 2022

Carl Sandburg - Dezesseis milhões de homens

Como este poema foi redigido ainda nos inícios da 1GM, o total de dezesseis milhões de combatentes, a que se refere o poeta, talvez diga respeito ao quantitativo de envolvidos até então naquela conflagração, entre sãos, moribundos e os mortos já contabilizados: a menção a “guerras de trincheiras” é o elemento que melhor caracterizaria aquela refrega.

 

O discurso do falante, claro está, é antibeligerante, chegando mesmo o poeta a intitular o poema com a palavra “Killers” (“Assassinos”) – ou seja, todos os envolvidos no morticínio –, rótulo não replicado pelo tradutor brasileiro: o fato de que sempre há tantas pessoas envolvidas nessa forma de agir insana, brutal e violenta atesta o poder latente de (auto)destruição do ser humano, quando se deixa levar por suas pretensões xenofóbicas, egocêntricas, até mesmo narcisistas.

 

J.A.R. – H.C.

 

Carl Sandburg

(1878-1967)

 

Killers

 

I am singing to you

Soft as a man with a dead child speaks;

Hard as a man in handcuffs,

Held where he cannot move:

 

Under the sun

Are sixteen million men,

Chosen for shining teeth,

Sharp eyes, hard legs,

And a running of young warm blood in their wrists.

 

And a red juice runs on the green grass;

And a red juice soaks the dark soil.

And the sixteen million are killing... and killing and killing.

 

I never forget them day or night:

They beat on my head for memory of them;

They pound on my heart and I cry back to them,

To their homes and women, dreams and games.

 

I wake in the night and smell the trenches,

And hear the low stir of sleepers in lines

Sixteen million sleepers and pickets in the dark:

Some of them long sleepers for always,

 

Some of them tumbling to sleep to-morrow for always,

Fixed in the drag of the world’s heartbreak,

Eating and drinking, toiling... on a long job of killing.

Sixteen million men.

 

In: “Chicago poems: war poems” (1914-1915)

 

Os gaseados

(John Singer Sargent: pintor ítalo-americano)

 

Dezesseis milhões de homens

 

Vou cantar para você,

docemente, como fala um homem que perdeu um filho;

duramente como um homem algemado

incapaz de se expandir.

 

Há dezesseis milhões de homens

sob o sol,

escolhidos por causa de seus dentes perfeitos,

seus olhos brilhantes, suas pernas fortes,

o sangue quente que lhes corre nas veias.

 

E uma seiva vermelha escorre pela grama verde;

e uma seiva vermelha molha o solo escuro.

E os dezesseis milhões de homens matam, matam sem parar.

 

Não os esqueço jamais.

Eles me martelam a cabeça para que não os olvide

eles me moem o coração, e meu grito lhes responde,

responde a seus lares, suas esposas, seus sonhos, suas alegrias.

 

Acordo-me à noite e sinto as trincheiras

e ouço o leve ruído dos que dormem alinhados –

dezesseis milhões a dormir e a espreitar dentro da noite.

Alguns há que há muito dormem para sempre,

 

outros há que caem e amanhã já dormirão,

presos à draga da desesperança do mundo,

a comer, a beber, a penar... e a matar.

Dezesseis milhões de homens!

 

Em: “Poemas de Chicago: poemas de guerra” (1914-1915)

 

Referências:

 

Em Inglês

 

SANDBURG, Carl. Killers. In: __________. Complete poems. New York, NY: Harcourt, Brace and Company, 1950. p. 36-37.

 

Em Português

 

SANDBURG, Carl. Dezesseis milhões de homens. Tradução de Sérgio Milliet. In: MILLIET, Sérgio (Seleção e notas). Obras-primas da poesia universal. 3. ed. São Paulo, SP: Livraria Martins Editora, 1957. p. 267-268.

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