Como este poema foi
redigido ainda nos inícios da 1GM, o total de dezesseis milhões de combatentes,
a que se refere o poeta, talvez diga respeito ao quantitativo de envolvidos até
então naquela conflagração, entre sãos, moribundos e os mortos já
contabilizados: a menção a “guerras de trincheiras” é o elemento que melhor
caracterizaria aquela refrega.
O discurso do falante,
claro está, é antibeligerante, chegando mesmo o poeta a intitular o poema com a
palavra “Killers” (“Assassinos”) – ou seja, todos os envolvidos no morticínio –,
rótulo não replicado pelo tradutor brasileiro: o fato de que sempre há tantas
pessoas envolvidas nessa forma de agir insana, brutal e violenta atesta o poder
latente de (auto)destruição do ser humano, quando se deixa levar por suas
pretensões xenofóbicas, egocêntricas, até mesmo narcisistas.
J.A.R. – H.C.
Carl Sandburg
(1878-1967)
Killers
I am singing to you
Soft as a man with a
dead child speaks;
Hard as a man in handcuffs,
Held where he cannot
move:
Under the sun
Are sixteen million
men,
Chosen for shining
teeth,
Sharp eyes, hard
legs,
And a running of
young warm blood in their wrists.
And a red juice runs
on the green grass;
And a red juice soaks
the dark soil.
And the sixteen
million are killing... and killing and killing.
I never forget them
day or night:
They beat on my head
for memory of them;
They pound on my
heart and I cry back to them,
To their homes and
women, dreams and games.
I wake in the night and
smell the trenches,
And hear the low stir
of sleepers in lines –
Sixteen million
sleepers and pickets in the dark:
Some of them long
sleepers for always,
Some of them tumbling
to sleep to-morrow for always,
Fixed in the drag of
the world’s heartbreak,
Eating and drinking,
toiling... on a long job of killing.
Sixteen million men.
In: “Chicago poems:
war poems” (1914-1915)
Os gaseados
(John Singer Sargent:
pintor ítalo-americano)
Dezesseis milhões de
homens
Vou cantar para você,
docemente, como fala
um homem que perdeu um filho;
duramente como um
homem algemado
incapaz de se
expandir.
Há dezesseis milhões
de homens
sob o sol,
escolhidos por causa
de seus dentes perfeitos,
seus olhos
brilhantes, suas pernas fortes,
o sangue quente que
lhes corre nas veias.
E uma seiva vermelha
escorre pela grama verde;
e uma seiva vermelha
molha o solo escuro.
E os dezesseis
milhões de homens matam, matam sem parar.
Não os esqueço
jamais.
Eles me martelam a
cabeça para que não os olvide
eles me moem o
coração, e meu grito lhes responde,
responde a seus
lares, suas esposas, seus sonhos, suas alegrias.
Acordo-me à noite e
sinto as trincheiras
e ouço o leve ruído
dos que dormem alinhados –
dezesseis milhões a
dormir e a espreitar dentro da noite.
Alguns há que há
muito dormem para sempre,
outros há que caem e
amanhã já dormirão,
presos à draga da
desesperança do mundo,
a comer, a beber, a
penar... e a matar.
Dezesseis milhões de
homens!
Em: “Poemas de
Chicago: poemas de guerra” (1914-1915)
Referências:
Em Inglês
SANDBURG, Carl. Killers.
In: __________. Complete poems. New York, NY: Harcourt, Brace and
Company, 1950. p. 36-37.
Em Português
SANDBURG, Carl.
Dezesseis milhões de homens. Tradução de Sérgio Milliet. In: MILLIET, Sérgio
(Seleção e notas). Obras-primas da poesia universal. 3. ed. São Paulo,
SP: Livraria Martins Editora, 1957. p. 267-268.
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