Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 25 de abril de 2022

Kabir - Ao desvelar-se, Brahman dá a ver o invisível [7]

As palavras de Kabir expressam aqui a sua particular devoção à divindade do hinduísmo, que se manifesta numa espécie de mística de amor junto à natureza, a modo de força espiritual que de todos os lados apreende emoções por meio de símbolos e de metáforas, os quais, a bem da verdade, mesclam crenças originárias da tradição brâmane com outras aparentemente auferidas à metafísica islâmica.

 

Pouco importa se um místico brâmane ou se sufi, o fato é que Kabir dispunha desse poder inato de aceder a uma vida ascética e dela nos dar conta pela via de uma representação artística, ou melhor, mediante o artesanato das palavras, da decantação de versos sublimes, revelando-nos um modo de se contemplar a realidade divina e os seus transcendentes mistérios.

 

J.A.R. – H.C.

 

Kabir

(1440-1518)

 

[7]

 

Ao desvelar-se, Brahman dá a ver o invisível.

Como a semente carrega a potência da árvore,

E a árvore traz consigo a promessa da sombra,

Assim, Ele engendra o incontável sem forma,

E o incontável, miríades de formas sem conta.

 

Em Brahman, o ente; no ente, Brahman:

Sempre distintos; todavia, sempre um.

Ele: a semente, a árvore, a sombra.

Ele: o sopro, a palavra, o sentido.

Ele: também o que não pode ser dito.

 

No interior da alma, vejo a alma suprema.

No interior da alma suprema, o grande ponto. (*)

No interior do grande ponto, o reflexo.

Ó irmãos, como expressar tal maravilha?

Kabir é abençoado por ter esta visão!

 

Brahman: o Senhor da Criação

no Hinduísmo

 

Nota de José Tadeu Arantes:

 

(*). O “grande ponto”, referido no verso, é o mahabindu, um conceito fundamental da cosmogonia hinduísta. Conforme supuseram os antigos sábios, nesse ponto sem dimensões, nesse “nada que é tudo”, para repetirmos as palavras de Fernando Pessoa, o Absoluto, ensimesmado, preexiste a toda manifestação e relativização. (KABIR, 2013, p. 147)

 

Referência:

 

KABIR. Poema nº 7: Ao desvelar-se, Brahman dá a ver o invisível. Tradução de José Tadeu Arantes. In: KABIR. Cem poemas. Seleção e tradução ao inglês de R. Tagore. Tradução, ensaios e notas de José Tadeu Arantes. São Paulo: Attar, 2013. p. 35.

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