Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 5 de abril de 2022

Paul Muldoon - Uma Vez Olhei em Teus Olhos

O poeta norte-irlandês, de uma forma um tanto quanto espirituosa, enfatiza nestes versos suas expectativas quanto aos avanços tecnológicos, muito especificamente no âmbito da física atômica ou molecular aplicada às ciências biológicas.

 

Senão vejamos: antes, relata o falante, tudo o que se poderia deduzir do que se passava na mente de sua companheira eram especulações captadas a partir de seus olhos ou coração; agora, sendo algo otimista demais, julga que, por meio de imagens retratando pontos coloridos em seu cérebro, obtidas mediante ressonância magnética intensificada por laser, poderá deslindar quais os domínios ali ativados para cada estímulo externo que lhe for aplicado.

 

Parece-me claro que as razões levantadas pelo ente lírico para aprestar-se a lançar mão de tamanho avanço tecnológico, porque quase tão eivadas de falsidades quanto as mentiras e os enganos que pressupõe haver na mente de sua companheira, são um notório mote para fazer do tema um poema. Afinal, não se precisa, obviamente, de todo o avanço da ciência para se inferir “flancos espúrios” num relacionamento íntimo. Pois se assim o fosse, urgiria ao falante, antes de tudo, ir ao encontro de um renomado oftalmologista! (rs)

 

J.A.R. – H.C.

 

Paul Muldoon

(n. 1951)

 

Once I Looked into Your Eyes

 

Once I looked into your eyes

and the only tissue I saw through

was the tissue of lies

behind everything you do.

 

Once I looked into your heart

and imagined I could trace

the history of the art

of deception in your face.

 

Now there’s something more than a chance

of making molecules dance

I’m somewhat gratified to find

 

that by laser-enhanced

magnetic resonance,

if nothing else, I may read your mind.

 

Sem título

(Maldha Mohamed: pintora maldiva)

 

Uma Vez Olhei em Teus Olhos

 

Uma vez olhei em teus olhos

e a única textura que vi através deles

foi a textura de mentiras

por trás de tudo o que fazes.

 

Uma vez olhei em teu coração

e imaginei que poderia traçar

a história da arte

do engano em teu rosto.

 

Agora, que há algo mais do que a possibilidade

de fazer as moléculas dançarem,

compraz-me de certo modo descobrir que,

 

mediante ressonância magnética

intensificada por laser,

se nada mais houver, posso ler tua mente.

 

Referência:

 

MULDOON, Paul. Once I looked into your eyes. In: CRAWFORD, Robert (Ed.). Contemporary poetry and contemporary science. 1st publ. Oxford, EN: Oxford University Press, 2006. p. 169. Disponível neste endereço. Acesso em: 04 mar. 2022.

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