O poeta norte-irlandês,
de uma forma um tanto quanto espirituosa, enfatiza nestes versos suas
expectativas quanto aos avanços tecnológicos, muito especificamente no âmbito da
física atômica ou molecular aplicada às ciências biológicas.
Senão vejamos: antes,
relata o falante, tudo o que se poderia deduzir do que se passava na mente de sua
companheira eram especulações captadas a partir de seus olhos ou coração; agora,
sendo algo otimista demais, julga que, por meio de imagens retratando pontos coloridos
em seu cérebro, obtidas mediante ressonância magnética intensificada por laser,
poderá deslindar quais os domínios ali ativados para cada estímulo externo que
lhe for aplicado.
Parece-me claro que
as razões levantadas pelo ente lírico para aprestar-se a lançar mão de tamanho
avanço tecnológico, porque quase tão eivadas de falsidades quanto as mentiras e
os enganos que pressupõe haver na mente de sua companheira, são um notório mote
para fazer do tema um poema. Afinal, não se precisa, obviamente, de todo o
avanço da ciência para se inferir “flancos espúrios” num relacionamento íntimo.
Pois se assim o fosse, urgiria ao falante, antes de tudo, ir ao encontro de um renomado
oftalmologista! (rs)
J.A.R. – H.C.
Paul Muldoon
(n. 1951)
Once I Looked into
Your Eyes
Once I looked into
your eyes
and the only tissue I
saw through
was the tissue of
lies
behind everything you
do.
Once I looked into
your heart
and imagined I could
trace
the history of the
art
of deception in your
face.
Now there’s something
more than a chance
of making molecules
dance
I’m somewhat
gratified to find
that by laser-enhanced
magnetic resonance,
if nothing else, I
may read your mind.
Sem título
(Maldha Mohamed:
pintora maldiva)
Uma Vez Olhei em Teus
Olhos
Uma vez olhei em teus
olhos
e a única textura que
vi através deles
foi a textura de
mentiras
por trás de tudo o
que fazes.
Uma vez olhei em teu
coração
e imaginei que
poderia traçar
a história da arte
do engano em teu
rosto.
Agora, que há algo
mais do que a possibilidade
de fazer as moléculas
dançarem,
compraz-me de certo
modo descobrir que,
mediante ressonância
magnética
intensificada por
laser,
se nada mais houver,
posso ler tua mente.
Referência:
MULDOON, Paul. Once I
looked into your eyes. In: CRAWFORD, Robert (Ed.). Contemporary poetry and
contemporary science. 1st publ. Oxford, EN: Oxford University Press, 2006. p.
169. Disponível neste endereço. Acesso em: 04 mar.
2022.
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