Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 13 de abril de 2022

Wisława Szymborska - Aniversário

Com versos alexandrinos e rimas parelhas, Szymborska nos faz refletir sobre o que, apropriadamente, se passa em cada “aniversário” nosso, um momento de experimentar alegrias junto a familiares e amigos, mas que, pelo outro lado, representa a passagem do tempo, o início de um novo ciclo, o que pode nos levar a juízos circunspectos, quase de modo semelhante ao que ocorre a muitas pessoas durante as festas de fim de ano.

 

A forma de arregimentar imagens algo excêntricas – ao mesmo tempo bem-humoradas e evocativas das convenções sociais que acompanham os marcos natalícios – atribui realce àquelas coisas lépidas e fugazes que nos acompanham no quotidiano, muito em conformidade com a ideia de que a vida humana, no domínio dos éons, é muito curta, um quase nada.

 

J.A.R. – H.C.

 

Wisława Szymborska

(1923-2012)

 

Urodziny

 

Tyle naraz świata ze wszystkich stron świata:

moreny, mureny i morza i zorze,

i ogień i ogon i orzeł i orzech

jak ja to ustawię, gdzie ja to położę?

Te chaszcze i paszcze i leszcze i deszcze,

bodziszki, modliszki – gdzie ja to pomieszczę?

Motyle goryle, beryle i trele –

dziękuję, to chyba o wiele za wiele.

Do dzbanka jakiego ten łopian i łopot

i łubin i popłoch i przepych i kłopot?

Gdzie zabrać kolibra, gdzie ukryć to srebro,

co zrobić na serio z tym żubrem i zebrą?

Już taki dwutlenek rzecz ważna i droga,

a tu ośmiornica i jeszcze stonoga!

Domyślam się ceny, choć cena z gwiazd zdarta

dziękuję, doprawdy nie czuję się warta.

Nie szkoda to dla mnie zachodu i słońca?

Jak ma się w to bawić osoba żyjąca?

Na chwilę tu jestem i tylko na chwilę:

co dalsze przeoczę, a resztę pomylę.

Nie zdążę wszystkiego odróżnić od próżni.

Pogubię te bratki w pośpiechu podróżnym.

Już choćby najmniejszy szalony wydatek:

fatyga łodygi i listek i płatek

raz jeden w przestrzeni, od nigdy, na oślep,

wzgardliwie dokładny i kruchy wyniośle.

 

In: “Wszelki Wypadek” (1972)

 

Parafernália

(Anna Sakharova: artista russa)

 

Aniversário

 

Tanto mundo de uma vez de todo canto do mundo:

morenas, moreias e mares e palmares

e o fogo e o figo e os flocos e as flores –

para tudo isso, onde arrumar lugares?

Esses mocós, socós, focas e cocos,

bromélias e abelhas – onde coloco?

O pinguim, o delfim, o jasmim e o tuim –

obrigada, isso é mais que demais para mim.

Em que jarra pôr o angico, o agito,

o agapanto, o pânico, a pompa e o conflito?

Para onde levar o colibri, onde esconder a prata,

o que fazer, fala sério, com o bisonte e a barata?

Já basta o dióxido, caro que você não faz ideia,

e ainda tem o polvo e mais a centopeia.

Imagino que seja exorbitante o preço –

não estou à altura, mas de novo agradeço.

Não é demais para mim o nascente e o poente?

Como vai brincar com isso uma criatura vivente?

Estou aqui por um momento, apenas um instante:

não sei do depois e confundo o restante.

A existência da ausência não conseguirei distinguir.

Mal percebo as begônias na pressa de partir.

Mesmo a menor – é uma despesa louca:

a fadiga da haste e da folha não é pouca,

uma só vez, do nunca, às cegas, viva,

desdenhosa e exata e frágil e altiva.

 

Em: “Todo o Caso” (1972)

 

Referência:

 

SZYMBORSKA, Wisława. Urodziny / Aniversário. Tradução de Regina Przybycien e Gabriel Borowski. In: __________. Para o meu coração num domingo. Seleção, tradução e prefácio de Regina Przybycien e Gabriel Borowski. 1. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2020. Em polonês: p. 122; em português: p. 123.

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