Com versos alexandrinos
e rimas parelhas, Szymborska nos faz refletir sobre o que, apropriadamente, se passa
em cada “aniversário” nosso, um momento de experimentar alegrias junto a
familiares e amigos, mas que, pelo outro lado, representa a passagem do tempo,
o início de um novo ciclo, o que pode nos levar a juízos circunspectos, quase
de modo semelhante ao que ocorre a muitas pessoas durante as festas de fim de
ano.
A forma de arregimentar
imagens algo excêntricas – ao mesmo tempo bem-humoradas e evocativas das convenções
sociais que acompanham os marcos natalícios – atribui realce àquelas coisas lépidas
e fugazes que nos acompanham no quotidiano, muito em conformidade com a ideia
de que a vida humana, no domínio dos éons, é muito curta, um quase nada.
J.A.R. – H.C.
Wisława Szymborska
(1923-2012)
Urodziny
Tyle naraz świata ze wszystkich
stron świata:
moreny, mureny i
morza i zorze,
i ogień i ogon i orzeł i orzech –
jak ja to ustawię, gdzie ja to położę?
Te chaszcze i paszcze
i leszcze i deszcze,
bodziszki, modliszki –
gdzie ja to pomieszczę?
Motyle goryle, beryle
i trele –
dziękuję, to chyba o wiele za
wiele.
Do dzbanka jakiego
ten łopian i łopot
i łubin i popłoch i
przepych i kłopot?
Gdzie zabrać kolibra,
gdzie ukryć to srebro,
co zrobić na serio z
tym żubrem i zebrą?
Już taki dwutlenek rzecz
ważna i droga,
a tu ośmiornica i jeszcze
stonoga!
Domyślam się ceny, choć cena z gwiazd zdarta –
dziękuję, doprawdy nie czuję się warta.
Nie szkoda to dla
mnie zachodu i słońca?
Jak ma się w to bawić osoba żyjąca?
Na chwilę tu jestem i tylko na
chwilę:
co dalsze przeoczę, a resztę pomylę.
Nie zdążę wszystkiego odróżnić od próżni.
Pogubię te bratki w pośpiechu podróżnym.
Już choćby najmniejszy – szalony wydatek:
fatyga łodygi i
listek i płatek
raz jeden w
przestrzeni, od nigdy, na oślep,
wzgardliwie dokładny
i kruchy wyniośle.
In: “Wszelki Wypadek”
(1972)
Parafernália
(Anna Sakharova:
artista russa)
Aniversário
Tanto mundo de uma
vez de todo canto do mundo:
morenas, moreias e
mares e palmares
e o fogo e o figo e
os flocos e as flores –
para tudo isso, onde
arrumar lugares?
Esses mocós, socós,
focas e cocos,
bromélias e abelhas –
onde coloco?
O pinguim, o delfim,
o jasmim e o tuim –
obrigada, isso é mais
que demais para mim.
Em que jarra pôr o
angico, o agito,
o agapanto, o pânico,
a pompa e o conflito?
Para onde levar o
colibri, onde esconder a prata,
o que fazer, fala
sério, com o bisonte e a barata?
Já basta o dióxido,
caro que você não faz ideia,
e ainda tem o polvo e
mais a centopeia.
Imagino que seja
exorbitante o preço –
não estou à altura,
mas de novo agradeço.
Não é demais para mim
o nascente e o poente?
Como vai brincar com
isso uma criatura vivente?
Estou aqui por um
momento, apenas um instante:
não sei do depois e
confundo o restante.
A existência da
ausência não conseguirei distinguir.
Mal percebo as
begônias na pressa de partir.
Mesmo a menor – é uma
despesa louca:
a fadiga da haste e
da folha não é pouca,
uma só vez, do nunca,
às cegas, viva,
desdenhosa e exata e
frágil e altiva.
Em: “Todo o Caso”
(1972)
Referência:
SZYMBORSKA, Wisława. Urodziny
/ Aniversário. Tradução de Regina Przybycien e Gabriel Borowski. In:
__________. Para o meu coração num domingo. Seleção, tradução e prefácio
de Regina Przybycien e Gabriel Borowski. 1. ed. São Paulo, SP: Companhia das
Letras, 2020. Em polonês: p. 122; em português: p. 123.
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